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Independança é um dos discos mais importantes da primeira geração pop/rock portuguesa de 80 e, claramente, um dos mais interessantes momentos da obra dos GNR, podendo-se mesmo afirmar como o seu melhor disco (com concorrência próxima dos imediatamente sucessores Defeitos Especiais, de 1984 e Os Homens Não Se Querem Bonitos, de 1985). Trata-se de um espaço de invulgar liberdade e fulgor criativo, mostrando vários pólos de interesse, diversas rotas estéticas, múltiplas ideias e formas. O álbum permite a coexistência de uma identidade pop com uma pulsão experimentalista que então habitava entre a banda, “conflito” de valores que ditaria, pouco depois, o afastamento de Vítor Rua, que concentraria então as atenções nos Telectu. A face A é uma exposição de vitalidade pop, atenta às linguagens do seu tempo (o disco é um dos mais coesos reflexos em Portugal da cultura pós-punk), e na qual se guardam algumas das mais contagiantes canções dos GNR, de Hardcore (1º Escalão) a Dupond & Dupond, de O Slow Que Veio do Frio ao Agente Único. Nelas se reflecte um sentido plástico infinitamente mais rico que na esmagadora maioria das bandas portuguesas da época, assim como se revelava a poética de Rui Reininho, que no álbum assinalava ainda a sua estreia no grupo. A mitologia pop portuguesa (se é que tal coisa existe) tende contudo a evocar frequentemente Independança pelo bizarro Avarias, “épico” free-rock que ocupa a totalidade dos 27 minutos de som da face B. Trata-se de uma experiência mais curiosa que musicalmente marcante, assinalando sobretudo uma postura de desafio formal que Independança acolhe na perfeição.