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Estaríamos porventura à espera de um concerto mais centrado nas covers que fazem o seu álbum deste ano, Twelve. O certo é que, mesmo com as memórias de Jimi Hendrix (Are You Experienced?) ou dos Nirvana (Smells Like Teen Spirit), o evento foi mais um vibrante e sentido best of que esteve, todo ele, ligado à energia do presente, não a uma mera nostalgia do passado. Acima de tudo, Patti Smith, aos 60 anos (completa 61 a 30 de Dezembro) mantém-se fiel aos poderes singulares da palavra poética, sempre cúmplice da teatralidade da performance, tudo encontrando o eco, a melodia e o ruído adequados na iniludível electricidade das guitarras.
Houve mesmo espaço e tempo para evocar a dimensão portuguesa da sua personalidade artística e, mais do que isso, a miragem de um café, em Lisboa, na companhia de Pessoa. O poeta, aliás, pode ajudar-nos a fechar este primeiro gesto de fixação de um concerto no labirinto de uma memória comovida: "Não sei quantas almas tenho / Cada momento mudei / Continuamente me estranho / Nunca me vi nem acabei."