A velha crónica, agora em formato digital
Ch Ch Changes...
Há pouco mais de uma semana os Radiohead fizeram a notícia. A edição, sem editora, sem suporte físico, sem promoção, de In Rainbows foi, independentemente do que se pensa sobre a música que o disco encerra, um êxito global. Mais de um milhão de downloads nos primeiros dias, cada qual a decidir quanto pagava pelo disco, muitos tendo já encomendado a versão “feita-à-medida”, por 40 libras, que se anuncia para 3 de Dezembro... As reacções não se fizeram esperar. Muitos outros artistas apoiaram a iniciativa. Trent Reznor anunciou que seguirá os passos dos Radiohead. Há rumores (sublinho, rumores) que falam de eventuais processos semelhantes pelos Oasis e Jamiroquai...
Agora, é Madonna quem faz a agenda do dia. Ontem ao cair da noite confirmou o afastamento da Warner (após 25 anos de relacionamento profissional) e a sua associação à Live Nation, uma empresa que até aqui trabalhava sobretudo na promoção de espectáculos e na gestão de salas de concerto. Madonna é a sua primeira artista de catálogo e, desde ontem, também accionista da companhia. Para a Live Nation gravará três álbuns em dez anos, ficando também a empresa a representá-la em digressão, no cinema e demais operações. Pela assinatura do acordo, segundo se diz, Madonna arrecadou 18 milhões de dólares e, como avanço por cada disco novo, 17 milhões.
Madonna explicou que, como artista e mulher de negócios, sentia o paradigma a mudar. Pelo que também ela tinha de mudar. E o Presidente Executivo da Live Nation sublinhou que este acordo é exemplo de uma nova forma de encarar o negócio da música.
Madonna não esgota assim nos discos (e negócios de publishing) o seu relacionamento com a empresa que a representa. O negócio é transversal e tem em conta que a venda de música gravada e a negociação e licenciamentos dos direitos das mesmas canções não são mais o núcleo da relação empresarial do artista com a indústria da música. O negócio mostra consciência clara sobre a necessidade de exploração de outras fontes de rendimento. Aos 49 anos, Madonna mostra que está atenta e na linha da frente da revolução em curso neste negócio (sim, a música, desde que exista para ser vendida, é negócio).
O paradigma mudou. Ela mudou. Quantos mais mudarão? Quando mudará a indústria discográfica “tradicional” a sua postura perante um mundo em acelerada mutação que, a cada dia, lhes foge das mãos? O recente caso da multa excessiva a uma americana (que, de facto, infringiu as regras) não é o caminho da salvação. Se por um lado mostra que o edifício legal anti-pirataria já é eficaz (e nada contra nesse capítulo) por outro, levantou mais vozes ainda contra uma indústria que já tem poucos amigos. A verdadeira sangria que se segue não corresponderá apenas aos “furtos” por pirataria (que, de facto, lesam esta indústria em milhões todos os anos)... A "nova" sangria virá dos artistas que, como Madonna, os Radiohead e outros mais, começam a querer ter nas suas mãos, e de outra maneira, a gestão das suas músicas...