Texto publicado na revista de televisão do Diário de Notícias (5 Out.), com o título 'Séries: a rotina' >>> A abundância e o impacto das séries televisivas criaram a ilusão de que se vive uma “idade de ouro” que, no limite, reduziria a produção cinematográfica a uma espécie de parente menor da própria televisão. Onde está, então, ao longo de 2007, uma série tão genial como os filmes de David Lynch (
Inland Empire) ou David Fincher (
Zodiac)?

Importa, no mínimo, relativizar as coisas e lembrar que a televisão é também um máquina de constante reprodução de modelos, muitas vezes não passando de variações mais ou menos sofisticadas para tentar prolongar algumas fórmulas de sucesso. Veja-se, por exemplo, o caso de
The Closer, série protagonizada por Kyra Sedgwick, recentemente lançada pela Fox. As “inspirações” são óbvias: por um lado, temos uma actualização de
Profiler (1996-2000), magnífica série protagonizada por Ally Walker, centrada na personagem de uma detective especializada na identificação psicológica de criminosos; por outro lado, há todo um aparato tecnológico da investigação policial que sugere o ambiente do muito popular
CSI. Da acumulação de tudo isto resulta uma mera cópia, preguiçosa e até involuntariamente anedótica, com Kyra Sedgwick a entrar naquele registo de representação em que se confunde profundidade emocional com a agitação da cabeça e a instabilidade do olhar. Decididamente, a grande série do momento chama-se
Erva (
Weeds, na RTP2) e demonstra que a modernidade pode estar na subtil reconversão das matrizes do melodrama clássico.