O barítono austríaco Wolfgang Holzmair canta quase sem se afastar do piano. É uma espécie de ambígua humildade de quem, por assim dizer, não quer separar-se do próprio corpo do piano, fundindo-se com os seus tempos e melodias (por vezes, os movimentos das mãos "encerram-no" mesmo na concavidade da tampa, numa espécie de poética fusão). Foi assim, pelo menos, que Holzmair se apresentou no Grande Auditório da Fundação Gulbenkian (dia 23, 19h00), para a abertura do "Ciclo de Canto" 2007/08 — no programa constava O Canto do Cisne (Schwanengesang), de Franz Schubert (1797-1828), colecção póstuma de canções com poemas de Johann Gabriel Seidl, Ludwig Rellstab e Heinrich Heine.
Se é verdade que a posição termi-nal destas composições (Schubert escreveu-as nos derradeiros meses de vida) convida a todas as metáforas trágicas, não é menos verdade que há nelas uma pulsão de vida — plena de contrastes e deambulações — que o canto pode sublinhar e, de alguma maneira, engrandecer. Foi isso, justamente, que fez Holzmair, senhor de uma voz em que a precisão técnica se reconfigura através de uma es-pantosa riqueza de timbre, literalmente dramática, subtilmente teatral. O acompanhamento da pianista inglesa Imogen Cooper distinguiu-se pela mesma sábia contenção e pelas envolventes intensidades saídas do seu labor. Sem ter lotação esgotada, porventura pela ausência de nomes mais "consagrados", o concerto da Gulbenkian foi um momento de eleição e deixou um raro sentimento de plenitude — Schubert conjugado no presente.
Se é verdade que a posição termi-nal destas composições (Schubert escreveu-as nos derradeiros meses de vida) convida a todas as metáforas trágicas, não é menos verdade que há nelas uma pulsão de vida — plena de contrastes e deambulações — que o canto pode sublinhar e, de alguma maneira, engrandecer. Foi isso, justamente, que fez Holzmair, senhor de uma voz em que a precisão técnica se reconfigura através de uma es-pantosa riqueza de timbre, literalmente dramática, subtilmente teatral. O acompanhamento da pianista inglesa Imogen Cooper distinguiu-se pela mesma sábia contenção e pelas envolventes intensidades saídas do seu labor. Sem ter lotação esgotada, porventura pela ausência de nomes mais "consagrados", o concerto da Gulbenkian foi um momento de eleição e deixou um raro sentimento de plenitude — Schubert conjugado no presente.