quinta-feira, outubro 11, 2007

FOTOGRAMAS: A Flor do Equinócio, 1958

Um vício contemporâneo, muito favorecido pelo naturalismo televisivo, faz crer que o quotidiano é o lugar da transparência e das trocas sem mistério. Qualquer filme de Yasujiro Ozu (1903-1963) nos mostra exactamente o contrário, ou seja, que vivemos em lugares marcados pelos mais diversos códigos, sejam eles de pose, comportamento ou mera organização cenográfica. A Flor do Equinócio é um melodrama familiar, dos muitos com que Ozu abordou as relações geracionais no Japão do pós-Segunda Guerra Mundial. Daí que uma imagem como esta não decorra da necessidade de "contextualizar", muito menos de confundir o cinema com as regras da pintura. Para Ozu, a imagem do interior de uma casa é também — é mesmo sobretudo — uma parte do mapa existencial daqueles que a habitam. Num certo sentido, somos convidados a habitá-la de forma ambígua, cúmplices dos dramas humanos e infinitamente seduzidos pela pureza das formas.

HIGANBANA / A Flor do Equinócio
Japão, 1958

Realização: Yasujiro Ozu
Produção: Shochiku
Argumento: Kôgo Noda e Y.Z., a partir de um romance de Ton Santoni
Interpretação: Shin Saburi, Kinuyo Tanaka, Ineko Arima