Assinado por Patrick McGrath (autor de Spider, romance que David Cronenberg levou ao cinema), Nova Iorque, Cidade Fantasma divide, um pouco como os Dias Exemplares de Michel Cunningham, a nossa atenção por três curtas novelas com acção em épocas distintas que, em conjunto transcendem as suas figuras particulares para, no fim nos darem do espaço essa mesma ideia de protagonismo. No livro de Cunningham uma presença transversal de referências a Walt Whitman e uma coexistência de lugares ligava as histórias. McGrath liberta as suas histórias na cidade, em comum todas elas partilhando a presença de fantasmas. Não daqueles com lençol e correntes. Mas demónios interiores, assombramentos de culpa, de medo, de ressentimento, que em cada um dos três relatos se mostram implacáveis naqueles sobre quem se abatem. Todas as histórias acontecem em Manhattan. A primeira, em tempos de sublevação contra o poder inglês, em vésperas da independência na década de 70 do século XVIII, explora o sentido de culpa de um homem que, cinquenta anos depois, recorda como a mãe foi condenada por traição aos ingleses. A segunda narrativa leva-nos para a casa de um homem de sucesso na cidade em meados do século XIX e para a tragédia que se abate sobre o filho mais novo a quem o amor é negado, marcas de xenofobia contra a emigração irlandesa e o fantasma da perda a desencadear um processo que acaba por levar o jovem à loucura. Mais recente, a terceira história coloca-nos dias depois do 11 de Setembro, num debate entre um psiquiatra e o seu paciente, que revelará mais danos no primeiro que os que imaginaria... Como nos recentes filmes de Christophe Honoré, onde a cidade de Paris nos é mostrada porque nela a acção acontece, Nova Iorque vive e vibra entre estas palavras. À sua maneira, um livro que viaja pela cidade. E que dá vontade, em viagem futura, de conhecer os locais onde estas acções de ficção tiveram palco.