Onde chegou a vida política portuguesa? A uma medíocre fulanização e uma especulação escolástica sobre o que "alguém" disse, o que "outro" ouviu e ainda um "outro" interpretou. Ontem, por exemplo, na RTP1, Marcelo Rebelo de Sousa desenvolvia uma teia argumentativa sobre um telefonema do novo líder do PSD... e o significado de tal telefonema ter acontecido... e os sentidos vários que os directa ou indirectamente implicados extraíram desse telefonema...
Tudo verdade, não tenho qualquer dúvida. Não é um problema de honestidade seja de quem for que está em causa. É, isso sim, o facto de o pensamento da vida política — logo do próprio país enquanto entidade colectiva — estar reduzido a uma telenovela de peripécias mais ou menos apimentadas, de acordo com o talento de quem assume a narração. Aliás, a provar que tal visão das coisas é maioritária (viva a democracia!), hoje, televisões, rádios e jornais empenham-se em prolongar a fascinante especulação sobre o dito telefonema.
Neste ambiente, ainda há quem arrisque algum gesto simbolica-mente inventivo. Por exemplo, no blog Abrupto, Pacheco Pereira propõe esta magnífica imagem:
Importa celebrar a sua ousadia argumentativa e acrescentar um mo-desto contributo para alargar os termos do debate.
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