O mundo mediático está a ser agitado pela promoção que a CBS tem estado a fazer de uma edição do programa 60 minutes (emitida no passado domingo): nele se vê Nicolas Sarkozy, Presidente da França, a abandonar uma entrevista, recusando responder a uma pergunta sobre a sua mulher Cécilia (a gravação foi feita cerca de duas semanas antes do anúncio oficial do divórcio do casal). A promoção é gratuitamente manipuladora, uma vez que suprime a própria pergunta. Fica a resposta de Sarkozy: "Se eu tivesse alguma coisa a dizer sobre Cécilia, certamente não o faria aqui."
Honra ao Presidente francês. Não será preciso discutirmos as suas políticas ou os seus modos de se expor publicamente — podemos discordar das primeiras e não gostar dos segundos. O que está em causa é de outra ordem: tem a ver com esse contínuo abuso de poder (quase sempre disfarçado de frivolidade) com que as televisões se assumem como tribunais das relações privadas e, em particular, do espaço conjugal. De facto, quem está a ser entrevistado — para mais tendo como pano de fundo as relações entre dois países tão poderosos e tão importantes na vida democrática do planeta como são a França e os EUA — tem o direito, básico e inalienável, de recusar ser um peão desse voyeurismo "institucional" das televisões. Recusar não falar em televisão pode ser tão importante como aceitar falar no interior do seus dispositivos. Foi assim (incluindo a pergunta):