A obra de Ludwig Van Beethoven (1770-1827) é presença firme no repertório de muitas orquestras russas desde o momento que, em 1824, a sua Missa Solemnis foi, pela primeira vez, apresentada em São Petesburgo. Não será portanto estranho o facto de vermos o pianista e maestro Mikhail Pletnev a fazer de uma integral das sinfonias (já publicada em disco) e dos concertos para piano do compositor um dos desafios maiores da Russian National Orchestra no presente. A orquestra por si fundada em 1990 (a primeira sob financiamento não estatal em solo Russo desde a revolução de 1917), e da qual é hoje director artístico, tomou o ano de 2006 como sendo dedicado a Beethoven, contrariando a “norma” das agendas de efemérides que, no ano passado, assinalavam os 250 anos do nascimento de Mozart e o centenário de Shostakovitch... A orquestra, dirigida por Christian Gansch, e com Pletnev como solista, apresentou os cinco concertos para piano de Beethoven em dois serões de música ao vivo integrados no festival dedicado ao compositor que teve lugar em Bona, em Setembro do ano passado. É dessas actuações ao vivo, então gravadas, que surge a série de discos que a Deutsche Grammophon tem vindo a editar, um primeiro (com os concertos números 1 e 3) lançado há alguns meses, um segundo (com os concertos números 2 e 4) a chegar agora aos escaparates. Na Primavera de 2008 a edição da integral dos concertos para piano chegará ao seu fim com um terceiro volume, integralmente preenchido pelo quinto concerto para piano e orquestra op. 75, também conhecido como “Imperador”.
Como explica David Gutman no booklet que acompanha este disco, a gestação do Concerto para piano e orquestra nº2 op. 19 é difícil de localizar no tempo. Na verdade, este foi o primeiro concerto para piano terminado por Beethoven, mas acabou por ser apenas publicado depois de um outro, em dó maior, que hoje conhecemos como sendo o número um. Apesar desta indefinição de pormenor, o concerto enquadra-se numa etapa intermediária na obra de Beethoven e revela, a dada altura, influência clara de Mozart e de um evidente sentido de humor nas melodias para o piano. O Concerto nº 4, op. 58 (cuja composição se sabe datada entre 1805 e 1806) é hoje uma das suas obras mais admiradas e tocadas. Todavia, não só não se conhece dele um manuscrito original da partitura, como se crê que tenha sido escutado publicamente apenas uma vez em vida do compositor, numa maratona em Viena em Dezembro de 1808, servindo de primeira parte à apresentação da sua Sinfonia nº 5. Ambos os concertos respiram, exultantes, nestas soberbas interpretações. E, de facto, Pletnev explica, nas mesmas notas, que “muitas vezes Beethoven é tratado com interpretações em registo de mausoléu, o que certamente se entende pelo respeito com que é encarado”. Porém, nesta sua abordagem como pianista, acompanhado pela “sua” orquestra, o seu objectivo foi o de “viver cada frase, cada momento, com alegria, como os vivemos no dia a dia”. E, “apesar dos microfones”, tentar recapturar o sentido de “espontaneidade na recriação da inspiração de Beethoven”.