domingo, setembro 02, 2007

Imagens ao piano

Com a edição de Images (disco duplo com o sub-título Inedites / Estampes), o pianista Alain Planès completa a sua integral das obras para piano solo de Claude Debussy ( 1862-1918). Mais que um conjunto que se destaque pela interpretação, este é um conjunto que sobretudo permite apreciar a variedade de ideias que habitavam a criação pianística de Debussy nos seus primeiros tempos. O álbum recolhe peças de diferentes tempos e origens, muitas delas nunca publicadas em vida do compositor. O conjunto de peças, de resto, abre com as três Images Inedites (noutras ocasiões já referidas como Images Oubliès), que, compostas em 1984, só foram dadas a conhecer publicamente em 1977, data da sua primeira publicação. Aqui encontramos ainda a Danse Bohémienne, a mais antiga das obras conhecidas do compositor. Com vasta discografia na Harmonia Mundi, Planès apresenta, entre os títulos disponíveis no mercado, gravações dos Études e Preludes de Debussy, sonatas de Schubert, Chopin, Haydn ou Strauss e conjuntos de obras para piano de Janácek e Chabrier. Amante da pintura e poesia, é descrito por alguns como uma figura distinta que cruza em si traços de Proust e Oscar Wilde. Integrou o Ensemble Contemporain de Boulez e no seu repertório mostra uma vasta abertura a compositores do século XX como Stockahusen, Ligeti ou Berio.

O talento de Debussy foi descoberto muito depois deste iniciar um trabalho regular na composição. Tinha entrado no Conservatório de Paris aos 12 anos, sonhando numa carreira como pianista de concerto. Frustrado o sonho, não se afastou do piano, e compôs, mesmo que inicialmente quase sem reconhecimento (apesar de vencer um ocasional prémio, em Roma, em 1884). Exigente, talvez demasiado exigente consigo mesmo, não aceitava publicar as obras que não considerava dignas de ser publicamente mostradas. Só assim se explica que muitas das peças que Alain Planès agora grava em Images tenham surgido publicamente muito depois de compostas, algumas inclusivamente reveladas apenas depois da morte do compositor. Apesar do carácter disperso das obras recolhidas neste disco, há aqui elementos suficientes para reconhecer, ainda que sem o impacte de obras futuras (como os marcantes La Mer ou Pelléas et Melissande), como a música de Debussy sabia, ao mesmo tempo, herdar pedaços da história (nomeadamente a forma da suite barroca) e visionar um futuro feito de novos desafios e mais largos horizontes onde cabiam novos exotismos e sinais de uma curiosidade pela repetição.

PS. Os amantes da música pop, que eventualmente tenham começado a descobrir Debussy com o álbum The Seduction of Claude Debussy, que os Art Of Noise lhe dedicaram em 1998, aqui podem encontrar muitas das composições que serviram de ponto de partida às reflexões e transformações que esse soberbo disco então revelou.