Texto publicado no Diário de No-tícias (13 Set.), com o título 'A China à esquina do Martim Moniz' >>> Será que poderemos assistir ao retorno da tradição dos “complementos” antes do “filme de fundo”? Esperemos que sim. Pelo menos, com a passagem de China, China, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata (antes de O Sabor da Melancia, Tsai Ming Liang), reata-se uma prática que, de facto, é indissociável das memórias de várias gerações de espectadores e, mais do que isso, dos seus sentimentos face ao consumo do cinema. O acontecimento é tanto mais importante quanto estamos perante uma verdadeira curta, quer dizer, um filme que dura o tempo necessário e suficiente para contar uma história de personagens chinesas no labirinto do Martim Moniz lisboeta.
Poderia ser um mero exercício de pitoresco, explorando a mútua estranheza entre cenário e personagens. Mas não, é mesmo o contrário disso: um quadro vivo, em planos de austera geometria e cores hiper-realistas, que nos faz descobrir uma família (pai, mãe e filho) que vive do comércio local, cultivando a nostalgia do país natal, tudo temperado com o ruído e o sangue de filmes de Hong Kong protagonizados por Chow Yun-Fat.
Sente-se aqui, inevitavelmente, a precisão maníaca e a tensão dramática de O Fantasma (2000) e Odete (2005), longas-metragens de João Pedro Rodrigues (a cuja concepção cenográfica já estava ligado João Rui Guerra da Mata). Sente-se, acima de tudo, a ambição de um cinema que rejeita qualquer facilidade telenovelesca, abrindo os olhos (e os ouvidos) para a complexidade e riqueza de um quotidiano de muitos contrastes. China, China não é um filme português em formato pequeno. É tão só um grande filme que dura 19 minutos.
Poderia ser um mero exercício de pitoresco, explorando a mútua estranheza entre cenário e personagens. Mas não, é mesmo o contrário disso: um quadro vivo, em planos de austera geometria e cores hiper-realistas, que nos faz descobrir uma família (pai, mãe e filho) que vive do comércio local, cultivando a nostalgia do país natal, tudo temperado com o ruído e o sangue de filmes de Hong Kong protagonizados por Chow Yun-Fat.
Sente-se aqui, inevitavelmente, a precisão maníaca e a tensão dramática de O Fantasma (2000) e Odete (2005), longas-metragens de João Pedro Rodrigues (a cuja concepção cenográfica já estava ligado João Rui Guerra da Mata). Sente-se, acima de tudo, a ambição de um cinema que rejeita qualquer facilidade telenovelesca, abrindo os olhos (e os ouvidos) para a complexidade e riqueza de um quotidiano de muitos contrastes. China, China não é um filme português em formato pequeno. É tão só um grande filme que dura 19 minutos.