As obras para dois pianos que este disco agrupa datam dos dias da Rússia czarista, compostas entre 1893 e 1901. A Suite Nº 1, por exemplo, nasceu num tempo em que Rachmaninov assistia, no Bolshoi, aos ensaios da sua primeira ópera, Aleko, em 1893. A relação entre a palavra e a música, a capacidade da poesia desencadear sensações e emoções, assim como as suas eventuais características narrativas, podem estar na base das reflexões que conduziram a uma peça que ecoa traços da música de Tchaikovski. É uma peça de cortante intimidade, em quatro quadros de pujante poder sugestivo, que começam por evocar os movimentos de barcas nos canais de Veneza, depois mergulha na escuridão de uma noite em que se escuta um rouxinol, larga lágrimas logo a seguir e termina, exultante, ao som de sinos que rasgam o ar... A mesma ligação da música a uma vontade de descrever acções ou lugares ou, mesmo, sugerir pequenas histórias, é transversal às outras duas peças aqui reunias, nomeadamente Seis Peças op. 11 para dois pianos (1894) e Suite Nº 2 para dois pianos (1901). Em magníficas interpretações de Jos Van Immersel (num Erad de Paris, de 1897) e Claire Chevalier (num Erad de Paris, de 1905), o disco parte da obra para dois pianos de Rachmaninov (Nina Schumann e Luís Magalhães apresentaram, há um ano, a “integral” em edição da Universal portuguesa). Nota final para mais um claro exemplo da forma como as novas edições discográficas na área da música clássica estão a saber usar o design gráfico em favor de uma primeira estratégia de sedução para a música que se guarda nos seus lançamentos. A capa e o interior do digipack usam pinturas de Anne Peultier expressamente criadas para o efeito, reflectindo a sua visão desta música, da sua interpretação, estabelecendo sugestões de ligação entre som e imagem.
domingo, agosto 12, 2007
Pianos que contam histórias
Aristocrata russo arruinado pela revolução de 1917, Sergei Rachmaninov (1873-1945) e família procuraram outros destinos, primeiro na Europa, mais tarde refugiando-se nos Estados Unidos. Aí, e para garantir a todos um modo de vida em consonância com o que antes haviam conhecido, aceitou trabalho como pianista e maestro, fazendo constantes digressões. Um sistema de profissionalização do espectáculo em franco desenvolvimento aceitou-o e levou-o de cidade em cidade, de orquestra em orquestra, arrebatando triunfos, sublinhando a sua fama enquanto virtuoso ao piano. Apesar dos registos, que confirmam estas qualidades do intérprete, é o compositor que hoje todos associam a Rachmaninoff. E muitas das peças que hoje escutamos, de óperas a sinfonias, de suites para piano a concertos, datam de um tempo anterior à revolução, à fuga, a uma vida nomádica que não mais lhe concedeu a mesma liberdade para criar.
As obras para dois pianos que este disco agrupa datam dos dias da Rússia czarista, compostas entre 1893 e 1901. A Suite Nº 1, por exemplo, nasceu num tempo em que Rachmaninov assistia, no Bolshoi, aos ensaios da sua primeira ópera, Aleko, em 1893. A relação entre a palavra e a música, a capacidade da poesia desencadear sensações e emoções, assim como as suas eventuais características narrativas, podem estar na base das reflexões que conduziram a uma peça que ecoa traços da música de Tchaikovski. É uma peça de cortante intimidade, em quatro quadros de pujante poder sugestivo, que começam por evocar os movimentos de barcas nos canais de Veneza, depois mergulha na escuridão de uma noite em que se escuta um rouxinol, larga lágrimas logo a seguir e termina, exultante, ao som de sinos que rasgam o ar... A mesma ligação da música a uma vontade de descrever acções ou lugares ou, mesmo, sugerir pequenas histórias, é transversal às outras duas peças aqui reunias, nomeadamente Seis Peças op. 11 para dois pianos (1894) e Suite Nº 2 para dois pianos (1901). Em magníficas interpretações de Jos Van Immersel (num Erad de Paris, de 1897) e Claire Chevalier (num Erad de Paris, de 1905), o disco parte da obra para dois pianos de Rachmaninov (Nina Schumann e Luís Magalhães apresentaram, há um ano, a “integral” em edição da Universal portuguesa). Nota final para mais um claro exemplo da forma como as novas edições discográficas na área da música clássica estão a saber usar o design gráfico em favor de uma primeira estratégia de sedução para a música que se guarda nos seus lançamentos. A capa e o interior do digipack usam pinturas de Anne Peultier expressamente criadas para o efeito, reflectindo a sua visão desta música, da sua interpretação, estabelecendo sugestões de ligação entre som e imagem.
As obras para dois pianos que este disco agrupa datam dos dias da Rússia czarista, compostas entre 1893 e 1901. A Suite Nº 1, por exemplo, nasceu num tempo em que Rachmaninov assistia, no Bolshoi, aos ensaios da sua primeira ópera, Aleko, em 1893. A relação entre a palavra e a música, a capacidade da poesia desencadear sensações e emoções, assim como as suas eventuais características narrativas, podem estar na base das reflexões que conduziram a uma peça que ecoa traços da música de Tchaikovski. É uma peça de cortante intimidade, em quatro quadros de pujante poder sugestivo, que começam por evocar os movimentos de barcas nos canais de Veneza, depois mergulha na escuridão de uma noite em que se escuta um rouxinol, larga lágrimas logo a seguir e termina, exultante, ao som de sinos que rasgam o ar... A mesma ligação da música a uma vontade de descrever acções ou lugares ou, mesmo, sugerir pequenas histórias, é transversal às outras duas peças aqui reunias, nomeadamente Seis Peças op. 11 para dois pianos (1894) e Suite Nº 2 para dois pianos (1901). Em magníficas interpretações de Jos Van Immersel (num Erad de Paris, de 1897) e Claire Chevalier (num Erad de Paris, de 1905), o disco parte da obra para dois pianos de Rachmaninov (Nina Schumann e Luís Magalhães apresentaram, há um ano, a “integral” em edição da Universal portuguesa). Nota final para mais um claro exemplo da forma como as novas edições discográficas na área da música clássica estão a saber usar o design gráfico em favor de uma primeira estratégia de sedução para a música que se guarda nos seus lançamentos. A capa e o interior do digipack usam pinturas de Anne Peultier expressamente criadas para o efeito, reflectindo a sua visão desta música, da sua interpretação, estabelecendo sugestões de ligação entre som e imagem.