sexta-feira, julho 13, 2007

Trolaró 2.04

A nova versão da velha crónica, agora em formato digital.

Mudar de vida

Todas as semanas chegam sinais de saudável agitação no meio musical que, como qualquer entidade viva, luta pela sobrevivência. Prince oferece o novo álbum com um jornal inglês. Paul McCartney e Sonic Youth editam por uma rede de cafés. A Chicago Symphony Orchestra encontrou mecenas e fundou a sua própria editora. Philip Glass edita por conta própria e sonha num futuro apenas feito por download. O MySpace vai mesmo começar a vender música. E os artistas da EMI vão brevemente poder vender downloads directamente dos seus sites oficiais.
Pergunta inevitável: que futuro é reservado aos editores neste cenário?
Nem 8 nem 80. Ou seja, nem a catástrofe da extinção inevitável. Nem nova e farta vida (como a que conheceram em tempo de vacas gordas). A razão corre algures pelo meio, num novo espaço de manobra sob novos hábitos (certo sendo que quem mais adiar a mudança de modos de acção, acabará por ter de encomendar missa por mais uma alma que se foi).
O paradigma mudou. A música é já hoje uma realidade que brota do mundo virtual. E contra isso nada a fazer. Cada novo projecto que entra em cena pode, sem a inevitabilidade dos orçamentos de há 20 anos, projectar e lançar uma carreira discográfica (ou, antes, musical). Ou seja, não precisa mais de uma estrutura que avance, qual banco, com um adiantamento para a gravação, a edição, a promoção... Grava-se em casa ou arredores, para computadores baratos. Coloca-se a música online. Usam-se redes de blogues e sites atentos para disseminar o som. Recorre-se a janelas de exposição global (como o MySpace, Last FM ou YouTube e, brevemente generalizado, o Second Life). Quem quiser cobra pelo que dá a ouvir, quem entender, oferece aperitivos para (como os Arctic Monkeys) cobrar mais tarde. Novos espaços de acção profissional estabelecem ligações entre artistas e eventuais anunciantes que usem a sua música em projectos comerciais... E sem esforço de reflexão, abre-se um leque variado de ambições de sucesso, da simples criação para exibição e já está, à não menos ética projecção empresarial de uma obra... Perante a infinita variedade de oferta, aos melhores (ou aos mais ágeis) sorrirão as melhores ofertas... Ao músico, assim, a obrigação de acreditar no que faz, a aposta no mais ginasticado programa de divulgação...
E os editores, no meio de tudo isto? Perdido o campeonato da nova música e o monopólio dos grandes acontecimentos, resta-lhes hoje, com staff reduzido a metade, o (nada desprezável) universo das grandes carreiras globais, cuja condução, sobretudo nos departamentos de marketing, exigem concertação central e eficaz acção imediata à escala planetária. A gestão correcta dos fundos de catálogo, farta oferta de memórias sempre prontas a mostrar-se perante interessados, se devidamente apresentadas, é baú a ter em conta. Assim como a capacidade de explorar outras fontes de “rendimento” da imagem e som dos seus artistas. Um Cohen ou um Sérgio Godinho podem hoje viver sem uma grande editora. Mas alguém imagina um Timbrelake ou uma Mariza sem uma?
O canto da desgraça não é música que se escute. Há, mais que nunca, espaço para todos (os gostos, os públicos, as ambições). Cada qual, contudo, que se aplique no que de mais indicado há no seu horizonte. A música, no fim, sobreviverá sempre. Aos mais aptos, como sempre, estando guardada a capacidade de nela encontrar novas formas de negócio.
PS. A imagem que ilustra este post é meramente para efeito estético, não se relacionando com nenhuma destas causas em particular.