Para nos conhecermos a nós mesmos
Usando outros contextos, mundos ou tempos, a ficção científica mais não tem proporcionado que terreno fértil e livre para reflexões sobre modelos políticos, sociais, económicos, sob a alçada de cauções dadas pela ciência e (ou) tecnologia. De resto, a separação mais evidente com os terrenos da fantasia (género frequentemente apresentado em escaparates comuns em muitas livrarias) estabelece-se entre o recurso à ciência na ficção científica e a simples invocação de magia nesse outro domínio. Apesar da vulgarização de certos ícones e mecanismos narrativos através de derivados menores na escrita (sobretudo em revistas dos anos 40 a 60, onde o trigo convivia com o joio) e, mais ainda, o cinema (das séries B dos anos 50 às space operas posteriores à Guerra das Estrelas), a ficção científica não deixou nunca de ser domínio de invenção literária na qual nasceram autores de referência (como H.G. Wells, Robert Heinlein, Philip K Dick ou Ray Bradbury) ou que, a dada altura, convocou a atenção de escritores de obra reconhecida noutros domínios (sendo casos famosos os de Aldous Huxley, George Orwell, J.G. Ballard ou mesmo o divulgador Carl Sagan). O polaco Stanislaw Lem (autor do clássico Solaris), céptico de certas características da escrita nesta área, definiu este universo literário como um mundo dominado por charlatães entre os quais só por vezes emergiam talentos reais. Apesar do exagero, tem alguma razão, uma verdadeira multidão de autores menores (alguns medíocres) representada na maioria das colecções da especialidade…
Nos últimos 20 anos multiplicaram-se o número de universidades, sobretudo nos EUA e Reino Unido, a propor licenciaturas de especialidade nesta área da criação literária. O discurso crítico ganhou solidez e visibilidade, a quantidade de estudos teóricos publicados aumentou significativamente. Neste momento, depois de compreendida a sua forma e função, debate-se, sobretudo, se este foi um género literário eminentemente característico do século XX, ou se é antes uma entidade viva, com novos desafios pela frente.
O que é a ficção científica?
Usando outros contextos, mundos ou tempos, a ficção científica mais não tem proporcionado que terreno fértil e livre para reflexões sobre modelos políticos, sociais, económicos, sob a alçada de cauções dadas pela ciência e (ou) tecnologia. De resto, a separação mais evidente com os terrenos da fantasia (género frequentemente apresentado em escaparates comuns em muitas livrarias) estabelece-se entre o recurso à ciência na ficção científica e a simples invocação de magia nesse outro domínio. Apesar da vulgarização de certos ícones e mecanismos narrativos através de derivados menores na escrita (sobretudo em revistas dos anos 40 a 60, onde o trigo convivia com o joio) e, mais ainda, o cinema (das séries B dos anos 50 às space operas posteriores à Guerra das Estrelas), a ficção científica não deixou nunca de ser domínio de invenção literária na qual nasceram autores de referência (como H.G. Wells, Robert Heinlein, Philip K Dick ou Ray Bradbury) ou que, a dada altura, convocou a atenção de escritores de obra reconhecida noutros domínios (sendo casos famosos os de Aldous Huxley, George Orwell, J.G. Ballard ou mesmo o divulgador Carl Sagan). O polaco Stanislaw Lem (autor do clássico Solaris), céptico de certas características da escrita nesta área, definiu este universo literário como um mundo dominado por charlatães entre os quais só por vezes emergiam talentos reais. Apesar do exagero, tem alguma razão, uma verdadeira multidão de autores menores (alguns medíocres) representada na maioria das colecções da especialidade…
Nos últimos 20 anos multiplicaram-se o número de universidades, sobretudo nos EUA e Reino Unido, a propor licenciaturas de especialidade nesta área da criação literária. O discurso crítico ganhou solidez e visibilidade, a quantidade de estudos teóricos publicados aumentou significativamente. Neste momento, depois de compreendida a sua forma e função, debate-se, sobretudo, se este foi um género literário eminentemente característico do século XX, ou se é antes uma entidade viva, com novos desafios pela frente.
O que é a ficção científica?
A ficção científica tem, sobretudo, reflectido sobre as grandes esperanças da humanidade, sobre o papel da ciência e tecnologia, mas também sobre o medo que inspiram certos modelos de poder - daí a profusão de distopias, entre as quais os célebres romances O Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley (1932), 1984, de George Orwell (1949) ou Farenheit 451, de Ray Bradbury (1953) - bem como as muitas incógnitas que o desenvolvimento tecnológico ainda guarda. A história do inventor destruído pela invenção é, de resto, uma das manifestações mais primárias desta última ideia.
Robert Heinlein (1907-1988) definiu ficção científica como “especulação realista sobre possíveis futuros acontecimentos, baseada solidamente no mundo real, passado e presente, e através de um conhecimento da natureza e do método científico”. Sublinhando distanciamento das novelas baratas para monstros verdes, robots assassinos ou naves colossais, o escritor Theodore Sturgeon (1918-1985) afirmou que “qualquer boa ficção científica é sempre uma história sobre seres humanos, com problemas humanos e uma solução humana que não pode ocorrer fora de um contexto que a ciência não procure explicar”.
Darko Suvin, autor de Metamorphoses Of Science Fiction: On The Poetics And Story Of A Literary Genre (1979) define esta como uma escrita que se distingue “pelo domínio narrativo de um elemento ficcional inovador, validado por uma lógica cognitiva”, e insiste na sua qualificação como género literário, tão válido pelas suas qualidades intelectuais como estéticas, este um debate não unânime ainda hoje. Bruce Franklin, autor em 1980 de uma tese sobre a obra de Heinlein, reconhece que este foi o escritor americano que “tirou a ficção científica de um gueto, o primeiro a ser integrado na cultura popular americana e, mais tarde, a merecer a aceitação em meios literários mais elevados”.