Quem se lembra de Robert Bresson (1901-1999)?
Ou ainda, mais cruamente: quem sabe quem é Robert Bresson?
Não, não é um problema de saber "enciclopédico" para exibir em concurso televisivo ou mundanismo social. É apenas uma questão que tem a ver com a nossa relação com o património cultural e cinematográfico. Ou seja: como compreender o cinema moderno, todo o cinema moderno, sem passar por Bresson? Digamos, para simplificar, que o espectador, cinéfilo ou não, não tem tido muitas oportunidades para se relacionar com os filmes de Bresson — são pouco vistos, televisivamente não existem, enfim, pertencem a uma paisagem de ausências que todos os dias se amplia. Agora, no mercado do DVD, a Midas Filmes lança, de uma só vez, três títulos de Bresson:
* O Carteirista / Pickpocket (1959): história de um carteirista encenada num insuperável minimalismo, a pouco e pouco transfigurando-se numa prova de amor trágico e redenção divina.
* O Processo de Joana D'Arc / Procès de Jeanne D'Arc (1962): meticulosa e obsessiva "reconstituição" do julga-mento de Joana D'Arc, expondo o modo como as palavras podem ser, de uma só vez, matéria da lei e mecanismo de re-velação das suas contradições e insu-ficiências ontológicas.
* O Dinheiro / L'Argent (1983): a obra-prima derradeira, inspirada em Tolstoi, expõe um mundo pós-moderno nas suas gélidas relações humanas: o dinheiro insinua-se como matéria de todas as trocas, num processo de esvaziamento de qualquer transcendência, a não ser, precisamente, a que nasce das "equivalências" financeiras — um verdadeiro e esplendoroso filme moralista, isto é, de discussão da possibilidade da moral face à decomposição do real.
Ou ainda, mais cruamente: quem sabe quem é Robert Bresson?
Não, não é um problema de saber "enciclopédico" para exibir em concurso televisivo ou mundanismo social. É apenas uma questão que tem a ver com a nossa relação com o património cultural e cinematográfico. Ou seja: como compreender o cinema moderno, todo o cinema moderno, sem passar por Bresson? Digamos, para simplificar, que o espectador, cinéfilo ou não, não tem tido muitas oportunidades para se relacionar com os filmes de Bresson — são pouco vistos, televisivamente não existem, enfim, pertencem a uma paisagem de ausências que todos os dias se amplia. Agora, no mercado do DVD, a Midas Filmes lança, de uma só vez, três títulos de Bresson:
* O Carteirista / Pickpocket (1959): história de um carteirista encenada num insuperável minimalismo, a pouco e pouco transfigurando-se numa prova de amor trágico e redenção divina.
* O Processo de Joana D'Arc / Procès de Jeanne D'Arc (1962): meticulosa e obsessiva "reconstituição" do julga-mento de Joana D'Arc, expondo o modo como as palavras podem ser, de uma só vez, matéria da lei e mecanismo de re-velação das suas contradições e insu-ficiências ontológicas.
* O Dinheiro / L'Argent (1983): a obra-prima derradeira, inspirada em Tolstoi, expõe um mundo pós-moderno nas suas gélidas relações humanas: o dinheiro insinua-se como matéria de todas as trocas, num processo de esvaziamento de qualquer transcendência, a não ser, precisamente, a que nasce das "equivalências" financeiras — um verdadeiro e esplendoroso filme moralista, isto é, de discussão da possibilidade da moral face à decomposição do real.