Texto publicado no Diário de Notícias (24 de Junho), com o título 'Emoção e política segundo Madonna' >>> Na turbulência de mensagens mediáticas em que todos os dias mergulhamos (e somos mergulhados), que faz a diferença? Que imagens sabem superar o conformismo de muitos modos de informação/desinformação?
Uma vez mais, Madonna convoca-nos para esse universo em que se joga a coexistência do particular e do universal, do individual e do colectivo. O seu novo teledisco, da canção Hey You, composta para os concertos do Live Earth (7 de Julho), é um pequeno grande exemplo de como é possível lidar com imagens correntes, reintegrando-as num discurso pessoal que tem tanto de emocional como de político, recordando-nos que o político não é uma “purificação” da emoção, mas sim uma via específica de apropriação das suas intensidades.
Madonna não aparece no teledisco. Escusado será dizer que essa auto-exclusão é tão significativa quanto seria a sua inclusão (porventura mais). Mostrar-se faz parte das regras de uma estrela: pela sua presença, através das suas imagens, uma estrela é alguém que assina visualmente o seu próprio trabalho. Ora, Madonna não só não aparece como encena Hey You como uma vertiginosa peça de... telejornal.
Somos confrontados com imagens que, directa ou indirectamente, remetem para o tema central do Live Earth: o aquecimento global do planeta Terra e as hipóteses de, politicamente, contrariar os seus efeitos, criando novas condições de existência. Mais ainda: retomando uma marca visual do teledisco de American Life (2003), as palavras da canção surgem encenadas através de sucessivas bandeiras nacionais, num jogo (concreto e abstracto) de simbólica internacionalização.
São quatro minutos de glorioso entertainment. É o tempo suficiente para compreendermos que as mudanças de atitude passam também pelos modos de representação do mundo e dos seus laços interiores. Vemos figuras míticas (John Lennon, Martin Luther King, Albert Einstein, etc.), a par de protagonistas da actual cena política internacional (George W. Bush e Nicolas Sarkozy, entre outros). O seu envolvimento com imagens que lembram os desequilíbrios económicos e ambientais produz um misto de panfleto e objecto contemplativo, aliás sublinhado pelo apelo a não desistir, a explorar as alternativas que (ainda) nos restam: “Hey you / Don’t you give up / It’s not so bad / There’s still a chance for us.”
Realizado por Johan Söderberg e Marcus Lindkvist (o primeiro ligado à montagem de alguns trabalhos anteriores de Madonna e à produção visual de “The Confessions Tour”), o teledisco de Hey You funciona como um radioso acidente no interior do nosso audiovisual: faz-nos ver que mesmo as imagens mais repetidas podem ser reinventadas.
Uma vez mais, Madonna convoca-nos para esse universo em que se joga a coexistência do particular e do universal, do individual e do colectivo. O seu novo teledisco, da canção Hey You, composta para os concertos do Live Earth (7 de Julho), é um pequeno grande exemplo de como é possível lidar com imagens correntes, reintegrando-as num discurso pessoal que tem tanto de emocional como de político, recordando-nos que o político não é uma “purificação” da emoção, mas sim uma via específica de apropriação das suas intensidades.
Madonna não aparece no teledisco. Escusado será dizer que essa auto-exclusão é tão significativa quanto seria a sua inclusão (porventura mais). Mostrar-se faz parte das regras de uma estrela: pela sua presença, através das suas imagens, uma estrela é alguém que assina visualmente o seu próprio trabalho. Ora, Madonna não só não aparece como encena Hey You como uma vertiginosa peça de... telejornal.
Somos confrontados com imagens que, directa ou indirectamente, remetem para o tema central do Live Earth: o aquecimento global do planeta Terra e as hipóteses de, politicamente, contrariar os seus efeitos, criando novas condições de existência. Mais ainda: retomando uma marca visual do teledisco de American Life (2003), as palavras da canção surgem encenadas através de sucessivas bandeiras nacionais, num jogo (concreto e abstracto) de simbólica internacionalização.
São quatro minutos de glorioso entertainment. É o tempo suficiente para compreendermos que as mudanças de atitude passam também pelos modos de representação do mundo e dos seus laços interiores. Vemos figuras míticas (John Lennon, Martin Luther King, Albert Einstein, etc.), a par de protagonistas da actual cena política internacional (George W. Bush e Nicolas Sarkozy, entre outros). O seu envolvimento com imagens que lembram os desequilíbrios económicos e ambientais produz um misto de panfleto e objecto contemplativo, aliás sublinhado pelo apelo a não desistir, a explorar as alternativas que (ainda) nos restam: “Hey you / Don’t you give up / It’s not so bad / There’s still a chance for us.”
Realizado por Johan Söderberg e Marcus Lindkvist (o primeiro ligado à montagem de alguns trabalhos anteriores de Madonna e à produção visual de “The Confessions Tour”), o teledisco de Hey You funciona como um radioso acidente no interior do nosso audiovisual: faz-nos ver que mesmo as imagens mais repetidas podem ser reinventadas.