Se a noção de cinema romântico faz sentido para além das escolas e das épocas, então Max Ophüls (1902-1957) é, provavelmente, o seu mais legítimo patrono — a sua obra antecede e, por assim dizer, prepara muitas das variações romanescas da Nova Vaga francesa, ao mesmo tempo que os seus filmes se distinguem por uma admirável síntese das artes clássicas, em particular a música e a literatura. Vê-lo ou revêlo é sempre empolgante.
Acaba de sair uma caixa com quatro filmes de Ophüls, incluindo o derradeiro e lendário Lola Montès (1955), com Martine Carol, retrato de uma cortesã do século XIX que resume um enunciado vital da obra do cineasta: a permanente contaminação do teatro e da vida. A caixa inclui ainda outra produção de raiz francesa, Madame De... (1953), com Danielle Darrieux, também um admirável retrato de mulher que pode resumir o próprio conceito "ophülsiano" de elegância: uma adequação paradoxal entre a suavidade da mise en scène e as convulsões emocionais que a habitam.
A edição é particularmente valorizada pelos outros dois títulos, bastante mais esquecidos, ambos pertencentes ao período americano de Ophüls. São eles: Carta de uma Desconhecida (1948), crónica de um amor dilacerado, protagonizada pela sublime Joan Fontaine [foto], uma das obras-primas fabricadas na década de 40 nos estúdios de Hollywood; e A Cilada da Ambição (1949), com James Mason e Barbara Bel Geddes, porventura o filme em que Ophüls mais se aproxima das regras do thriller, mas sem que isso diminua os valores específicos da sua visão e, em particular, da sua arte de iluminar as sombras do humano.