O homem que segura a nota viaja de regresso à região do rio Yang-Tsé, completamente alterada pela construção de uma gigantesca barragem — procura a mulher, procura uma paisagem possível para recomeçar a viver. Dir-se-ia que o absurdo se instala na sua própria mão: entre a China da "tradição" e a China do "progresso" não há ruptura, nem sequer simples continuidade, antes uma dramática acumulação (o velho + o novo) em que tudo parece delirar num único presente sujeito a uma aceleração sem rosto.
Assim é Natureza Morta (2006), distinguido com o Leão de Ouro do 63º Festival de Veneza. Já nosso conhecido através de Plataforma (2000) e O Mundo (2004), o realizador Jia Zhang Ke continua a exercer o seu olhar, metódico e obsessivo, sobre a China contemporânea. É um cinema de subtil realismo em que cada gesto pode transportar a mágoa indizível de muitas memórias, individuais ou colectivas. Nesta perspectiva, Natureza Morta é também um filme sobre o sentimento do tempo que passa — um tempo que não regressa a não ser como traço abstracto de algo que, para sempre, se perdeu.
Assim é Natureza Morta (2006), distinguido com o Leão de Ouro do 63º Festival de Veneza. Já nosso conhecido através de Plataforma (2000) e O Mundo (2004), o realizador Jia Zhang Ke continua a exercer o seu olhar, metódico e obsessivo, sobre a China contemporânea. É um cinema de subtil realismo em que cada gesto pode transportar a mágoa indizível de muitas memórias, individuais ou colectivas. Nesta perspectiva, Natureza Morta é também um filme sobre o sentimento do tempo que passa — um tempo que não regressa a não ser como traço abstracto de algo que, para sempre, se perdeu.