sábado, abril 28, 2007

Solidão de espectador

(continuação de post de 18 de Abril)
7. Provavelmente, para sermos dignos do radicalismo de David Lynch, deveremos ter a coragem de negar as "evidências" que nos querem impor. E dizer não. Dizer que os filmes não "servem" para contar histórias. Dizer que as histórias não dão "sentido" ao mundo. Dizer que o mundo não está escrito como um "destino".
8. Claro que Inland Empire não é um filme fácil. Mas também não é fácil compreender as notícias da economia. Aliás, em boa verdade, cada vez que os telejornais começam a falar do PSI-20 e outras maravilhas que comendam a nossa existência, quase ninguém entende o que está jogo... E, no entanto, ninguém diz nada! Mas se um cineasta faz um filme que fuja à preguiça mental das telenovelas, então há sempre quem grite ao escândalo... O insuportável é sentirmo-nos desamparados face a um filme. E sentir que esse desamparo nos coloca perante a evidência da nossa própria condição solitária — ser espectador é isso: ter medo e continuar.
9. Sinopse possível para Inland Empire: alguém tem medo e esse medo transmite-se como um vírus. Quem tem medo é uma actriz de cinema. Quem fica contaminado é um espectador de cinema. A doença que assim se propaga só pode ter um nome: um filme.
(continua)