Patrick Wolf actua hoje à noite no Lux. Hora marcada: 22.00. Será o primeiro concerto do músico na cidade, e deverá ter na ementa, como protagonistas, as canções do recente The Magic Position. Para efeitos de aperitivo, aqui fica o teledisco do tema que dá título ao álbum. Pop, pop, pop... Antes do som e das imagens, memórias recentes (em texto originalmente publicado na revista 6ª).
Qual é, afinal, o mundo de Patrick Wolf? O de um violetista de sensibilidade rara, mas que gosta de contaminar a sua música com outras fontes de som? O de um cantautor que partilha genéticas na música clássica e folk com um óbvio sentido pop? O de um esteta em pleno processo de ensaio e erro, aventura ainda à procura de porto, e alguns anos somados de vida nómada a justificar os muitos caminhos até aqui experimentados? Ou, como o próprio explica, com claro sentido de humor, ao afirmar que cada um de nós é “na verdade cem pessoas ao mesmo tempo”. Ou, como continua: “Não somos um estereótipo de nós mesmos, pelo que gosto da ideia de poder celebrar o facto de acordar em atmosfera suicida e, à hora do almoço, ter vontade de me casar...” No fundo, isto não é mais que o estranho, mas envolvente e contagiante mundo de sensações que encontramos no seu novo disco. “The Magic Position é, creio, uma boa representação daquilo que fui durante um ano”, confirma. Umas canções foram escritas num contexto espacial de instabilidade, mas de grande estabilidade emocional: “Aquela estabilidade encontrada... Aquela calma que se alcança quando se conhece alguém com quem se quer partilhar os dias que faltam das nossas vidas. E isso permitiu-me expressar, artisticamente, coisas muito diferentes”, confessa.
Este, na verdade, talvez seja o mais pessoal (e transmissível) dos seus álbuns e não tem sido por acaso que os seus amigos, após uma primeira audição, lhe têm telefonado a felicitá-lo: “Creio que consegui finalmente expressar o que sempre tinha querido dizer aos meus amigos, escrever o que nunca tinha conseguido dizer... Foi quase uma experiência confessional ao jeito religioso”, explica. E não parece receoso pelo patamar de exposição em que agora é colocado. “Estou mais confiante”, conclui. Na verdade, Patrick Wolf sempre gostou de desafiar as suas fragilidades e de se sentir confrontado com o inesperado “sobretudo naqueles momentos em que somos obrigados a regressar à estaca zero”. Há um ano e meio estava afogado em dívidas e emocionalmente quase derrotado. Voltou ao zero. Gravou um novo disco. Renasceu. “Documentei um pedaço da minha vida, gravei-o, coloquei-o numa caixa. E agora pode ser apreciado, comentado, discutido, reflectido. Mas já não é meu. Libertei-me dele”, conclui.