segunda-feira, abril 09, 2007

Discos da semana, 9 de Abril

Entre os discos que esta semana chegaram aos escaparates nacionais, aqui fica uma pequena selecção crítica. Este é o novo modelo pelo qual, em início de semana, aqui continuaremos a destacar as novidades em forma de disco:

BC Camplight é o nome atrás do qual se “esconde” o norte-americano Brian Chris Tinzio. Natural da Pensilvânia, apresenta aos 27 anos um segundo álbum no qual mostra claros sinais de maturação de uma ideia apresentada há dois anos em Hide, Run Away, nada mais que uma abordagem, via pop, às formas e desígnios de uma escrita para autor e intérprete. Tal como escutámos já nos discos do texano Faris Nourallah, há em BC Camplight uma vontade em não pensar que uma obra de cantautor é apenas possível sob genética folk. Pelo contrário, o disco deixa evidente admiração maior por nomes como George Gershwin ou Burt Bacharah, sendo que a mais óbvia das referências que aqui se escutam aponte à obra dos Beach Boys. Blink of A Nihlist é, ao contrário da fresta de vazio que o título possa sugerir, um duelo entre uma alma atormentada e implosiva e uma vontade em fazer da luz que outros ilumina um objectivo a conquistar... pela canção. Longe de ser uma obra prima, um soberbo exercício de escrita pop, sem receio de explorar elaborados cenários repletos de acontecimentos (leia-se arrranjos desafiantes) para cada nova canção que se escuta.
BC Camplight “Blink Of A Nihilist” One Little Indian / Compact Records
Para ouvir: MySpace

Longe de ser uma catástrofe, o álbum que assinala o regresso dos Bright Eyes aos discos está contudo uns valentes furos abaixo da dupla I’m Wide Awake It’s Morning e Digital Ash In a Digital Urn, que há dois anos consagrou definitivamente Connor Oberst como um dos mais versáteis e cativantes entre os cantautores da sua geração. Após lenta e gradual conquista de segurança, personalidade, aplauso crítico e de um público, o mais visível dos projectos de Oberst foi um dos que mais contribuiu para uma inesperada e franca relação de novos públicos com heranças folk e, sobretudo, country. Porém, na hora de jogar perante terreno conquistado, jogam, pela primeira vez, pelo seguro. Sem assumir um rumo concreto, antes procurando não deixar nenhum espaço antes visitado por tratar, Connor Oberst quase concebe neste Cassadaga uma síntese das rotas e destinos por onde a sua música já caminhou. Ensaia pontual sinfonismo com noção de espaço e drama, aceita heranças indie rock (que há muito lhe são recolhecidas, sobretudo fora dos Bright Eyes), e, claro, faz da folk e country os reis da festa. Porém, o festim de géneros e formas serve uma colecção de canções que, mesmo não sendo desinspiradas, não revelam a pujança ou entusiasmo de outros tempos. Aqui há cautelas. Demasiadas cautelas...
Bright Eyes “Cassadaga” Saddle Creek / Universal
Para ouvir: MySpace

A aceitação global que a música das Cansei de Ser Sexy está a gerar um pouco pelo mundo fora resulta agora na inevitável tentativa de exportação de outras forças musicais oriundas da cidade de São Paulo, que naturalmente partilhem das mesmas premissas, referências ou antecedentes. O mais evidente dos casos revela-nos, finalmente, um curioso colectivo de pura festa pop (com tempero pós-punk) que se apresenta sob o nome Jumbo Elektro. São também de São Paulo e, filhos de famílias imigradas dos mais variados destinos, concebem um som que é quase esquizofrénico híbrido de referências musicais e genéticas culturais. Cantam em várias línguas e, neste seu álbum de estreia (originalmente lançado no Brasil em 2004 e que, ao invés do que o título sugere, não é uma antologia de êxitos), mostram uma invejável capacidade em fazer a festa em todos os comprimentos de onda possíveis segundo referências que tanto elegem nomes como os Ramones, Devo ou Kraftwerk, como não escondem igualmente nutritivos encantos pelas memórias de uns Mutantes ou Serge Gainsbourg. Sem pretensões que não as de ser banda sonora de momentos bem passados (leia-se dançados), uma curiosa colecção de festa brasileira sem quaisquer indícios de samba ou forró...
Jumbo Elektro “Freak To Meet You (The Very Best Of Jumbo Elektro)” Reco-Head
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Porque não entender, entre a vasta (e marcante) descendência dos Jests & Mary Chain uma banda criada, pelos próprios “manos” Reid, para a sua “mana” Linda? Convidada a colaborar naquele que foi o último álbum de originais do duo (Munki, de 1998), Linda Reid encantou os irmãos, ao ponto destes ponderarem a construção de uma banda com canções e personalidade à sua imagem. Assim nasceram os Sister Vanilla, nada mais que um colectivo de formação não rígida, com conceito (leia-se produção) e canções pensadas entre os três irmãos, contando depois com uma série de colaborações de músicos de bandas como os Electrafixion ou Earl Brutus. As canções de Little Pop Rock, na verdade, não parecem mais que projecções directas da pop mais amena que os Jesus & Mary Chain registaram em canções como April Skies ou Just Like Honey. A abordagem vocal estabelece depois a (subtil) diferença, num conjunto que, mesmo longe dos momentos de glória de Psychocandy ou Darklands, revela como esta é, ainda hoje, uma suculenta genética capaz de gerar belos momentos pop.
Sister Vanilla “Little Pop Rock” Chemical Undreground Records
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Naquele que é o seu melhor álbum desde Supermodified (2000), Amon Tobin retoma a vontade de criar uma música com sentido de encenação para eventual narrativa (mesmo que abstracta) inevitavelmente sombria. O disco nasceu de sons recolhidos no mundo real, deles partindo sugestões que depois trabalhou em regime digital. A grande força do álbum reside, depois, na forma como o músico consegue conciliar estruturas e paisagens electrónicas com melodias criadas por instrumentos reais (a cargo de uma série de colaboradores, do Kronos Quartet à harpista Sarah Page). Melódica e texturalmente rico, revelando uma sólida capacidade em conceber uma música com fisicalidade espacial evidente, um mundo de histórias (ou apenas cenários) que tanto nos conquistam como assombram.
Amon Tobin “The Foley Room” Ninja Tune / Symbiose
Para ouvir: MySpace

Também esta semana: Kings Of Leon, Waterboys, Modest Mouse (ed. internacional), Prefab Sprout (reedição), Herbert, DJ Vadim, Cowboy Junkies, CocoRosie, Pole

Brevemente:
16 de Abril: Nine Inch Nails, Patti Smith, Ben Folds (DVD), Low, Maria João, Cornelius
23 de Abril: Arctic Monkeys, King Britt (mix), Tributo a Joni Mitchell, Young Gods, Tarwater
30 de Abril: Blonde Redhead, Bob Dylan (DVD), Tori Amos, Manic Street Preachers, Squeeze (best of)
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Maio: Rufus Wainwright, OMD (reedição), Björk, Spiritualized, The Knife (DVD)
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Estas datas podem ser alteradas a todo o momento