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Centrado na crise de uma personagem peculiar — um professor branco, de um liceu de alunos maioritariamente negros, lutando com a sua dependência de algumas drogas —, Half Nelson é um exemplo brilhante de uma produção independente que, a partir de um pequeníssimo orçamento de 700 mil dólares (pouco mais de 530 mil euros, menos que a maior parte dos filmes portugueses produzidos em anos recentes), possui uma acutilância realista e uma densidade dramática invulgares.
A nomeação de Ryan Gosling para o Oscar de melhor actor (a única de Half Nelson) distingue um trabalho de invulgar subtileza afectiva. Em todo o caso, seria errado reduzir o filme a um one-man-show. Bem pelo contrário: as interpretações são todas admiráveis, com destaque para Shareeka Epps [ambos na imagem], compondo uma aluna de 13 anos que estabelece uma relação de singular cumplicidade com o seu professor. Que ambos saibam representar essa relação muito para além de qualquer cliché (dramático ou moral), eis o que diz bem da riqueza e complexidade deste filme que merece ser descoberto.