
De facto, a história de Vienna (Crawford) e desse homem da guitarra (Hayden) que emerge de um passado enigmático, ferido de nostalgia e dor, é uma daquelas ficções plurais — ligando a vocação épica do western com as paisagens afectivas do melodrama — que resumem a vitalidade do próprio classicismo. Das cores quentes do trucolor ao lendário diálogo em que Hayden e Crawford se repetem, sem nunca dizerem o mesmo, tudo labora aqui para a sagração de uma forma de sentir o cinema como uma arte única de celebração da vida e entrega plena aos sobressaltos da ficção. Ver ou rever Johnny Guitar é, por isso, redescobrir um cinema completamente feliz no interior da sua irredutibilidade estética.
* Johnny Guitar (1954), de Nicholas Ray: Cinemateca, hoje, 21h30.