terça-feira, fevereiro 27, 2007

Discos da semana, 26 de Fevereiro

Patrick Wolf “The Magic Position”
Para Patrick Wolf a pop é hoje em dia a mais libertadora das músicas. E nesse ponto não há dúvidas ao escutar o seu terceiro álbum. The Magic Position é um álbum pop como há muito não se ouvia. Pop com três letras. Grandes. Pop luminosa, mas tão garrida quanto frágil, linguagem de ensaio aqui posta ao serviço do retrato de um ano numa vida, confissões pessoais feitas canções naquele que não só é o melhor disco do jovem músico inglês até à data como representa mais um dos pedaços de música que 2007 registará entre o seu melhor. Pop, sem dúvida. Mas não reduzamos The Magic Position a um rótulo que ultimamente tem andado por mãos erradas. Mais que no inquieto Lycanthropy e no sublime Wind In The Wires, onde, respectivamente o músico revelava a sua infinita versatilidade nas fontes e, mais tarde, uma busca de requinte e rigor nas formas, o novo disco mostra um Patrick Wolf tão capaz da experiência traçada como quem navega à vista desarmada, como da arte da busca da perfeição. Alternando a efusiva vitalidade melodista de um Accident & Emergency (single de avanço de ostensiva festividade pop, revelada para espanto geral, ainda em 2006), Get Lost ou do próprio tema-título com episódios de implosão para piano, cordas e palavras (entre os quais o arrepiante Magpie, dueto com Marianne Faithfull ou o não menos belo Augustine), Patrick Wolf toma The Magic Position como purga pop para um ano de eventos, certo sendo que da terapia parece ter nascido um homem mais feliz que o que havíamos conhecido nos dois primeiros discos. Felicidade que não abafou o sentido de perigo que assume ao insistir numa cuidada construção de cenários e personagens, vidas ficcionadas que usa para contar os seus dias. Certo parecendo ser que, mesmo ciente de estar para já fechado num carrossel de cores vivas, um espírito mais tranquilo habita estas canções com vontade de se mostrar tão perfeitas quanto possível. E nelas encontramos nós um raro pedaço da melhor arte pop dos dias que correm.

Old Jerusalem “The Temple Bell”
Depois de ter assinado dois dos mais elogiados álbuns da recente música feita em Portugal, Francisco Silva chega ao terceiro disco com uma linguagem já sólida e demarcada. Linguagem que, com April e Twice The Humbling Sun dele fez, talvez o mais interessante de uma nova geração de cantautores. Não era por acaso, portanto, que o novo disco era um dos mais esperados neste início de ano. Porém, apesar da segurança lírica (em mais credíveis e pessoais histórias feitas de discreta melancolia) e de um evidente ensejo de mais elaborada arte final, o conjunto das canções aqui apresentadas está longe de corresponder às expectativas. Depois de um arranque convidativo, o álbum instala em nós uma plácida, mas monótona letargia, sem janelas de brilho ou sombra, que aos poucos deixam frustrada a vontade de aqui querer encontrar o desejo esperado.

U-Clic “Console Pupils”
Há dois anos, esta era uma das mais entusiasmantes ideias na música portuguesa. Na verdade, a música (e a sua projecção como corpo em palco) nada mudou e o seu valor está aqui registado. Mas o que era novo e espantosamente oportuno há quase dois anos, é agora uma espécie de eco distante que, entretanto sabe a “podia ter sido, mas não foi”... Há aqui belíssimas ideias de construção de canções de viço punk sob ferramentas electrónicas, com Unfashionautic Superstars, Ici In Disneyland ou Like a merecer inscrição na lista das canções mais entusiasmantes do ano ‘tuga’ até ao momento. Contudo, o atraso inenarrável com que o disco chega, finalmente às lojas transformará o que era uma das mais entusiasmantes promessas de 2005 num foguete molhado em 2007. A música que antes estava em sintonia com certas manifestações de além fronteiras já não tem o mesmo sabor à fúria do novo com que a descobrimos. E, quem sabe se a criação dos próprios U-Clic já circula noutros destinos... Ou seja, Console Pupils não deixa de ser um bom disco. Mas a sua capacidade em marcar a agenda do presente perde por chegar, tarde demais, a um calendário que há muito o esperava.

Kaiser Chiefs “Yours Truly, Agry Mob”
O álbum de estreia dos Kaiser Cheifs foi das erupções pop mais “bife” que a actual geração britânica nos deu, dele nascendo uma mão cheia de cativantes hinos que, em palco souberam fazer a festa, quase lembrando a atmosfera festiva os dias mais luminosos dos Blur em meados de 90 (afinal havia ali genéticas partilhadas). Ao segundo álbum, contudo (e seguindo triste destino que recentemente abraçou as segundas gravações dos compatriotas Bloc Party ou dos norte-americanos The Killers), uma inesperada banalização das formas e conteúdos ameaça transformar uma banda c0m sangue vivo num colosso para delírio em estádio. Sem verdadeira chama criativa, apostando antes em colagens de modelos de resposta laddish fácil, num processo de desmoronamento de uma ideia antes promissora como, nos anos 90 vimos acontecer com os James, o disco é medíocre prova de que algo de errado corre mesmo numa geração que parece incapaz de vencer o desafio do primeiro episódio.

Também esta semana:
Pop Levi, Bowie (mais seis reedições), Gus Gus, Tarnation, High Llamas, Frank Black, Stereo Total, Gus Gus, Damned (reedição), Jessee Malin, Cast (BBC Sessions)

Brevemente:
5 de Março: Arcade Fire, Mika, Bryan Ferry, Air, Tracey Thorn, Ry Cooder, Stooges, RJD2, Seeds (best of), Mint Royal, Depeche Mode (reedições), !!!
12 de Março: LCD Soundsystem, Magazine (reedições), Blind Zero
19 de Março: Rakes, David Bowie (reedições), Kronos Quartet


Março: The Knife (DVD), Gary Numan (BBC Sessions), Kieran Hebden + Steve Reid, Da Weasel, Arctic Monkeys, LCD Soundsystem, Norton, Bananarama, OneTwo
Abril: Patti Smith, Bright Eyes, Spiritualized, Modest Mouse, Brett Anderson, The Bees, Nine Inch Nails
Maio: Rufus Wainwright, OMD (reedição), Tori Amos

Estas datas podem ser alteradas a todo o momento