quarta-feira, janeiro 10, 2007

Scorsese: vertigem e pedagogia

A história faz-se também destas imagens que, por assim dizer, cristalizam de forma indelével as memórias mais intensas de todos e cada um de nós. Que vemos? Martin Scorsese em Nova Iorque, no telhado de um prédio do bairro (Little Italy) onde cresceu, dissertando como só ele sabe, com paixão e rigor, sobre o cinema italiano antes e depois do neo-realismo — no fundo, à direita, estão ainda as torres do World Trade Center.
Foi em 1999. A imagem pertence a um fabuloso trabalho em que se cruzam uma vertiginosa visão criativa do cinema e um exemplar sentido pedagógico da história estética e temática dos filmes — chama-se A Minha Viagem a Itália e chegou ao mercado português do DVD. Recordando os grandes autores do cinema italiano das décadas de 1940/50/60 — com inevitável destaque para Roberto Rossellini e Luchino Visconti —, Scorsese descodifica as bases do movimento neo-realista, mostrando ao mesmo tempo o modo como Obsessão (Visconti, 1943) ou Viagem em Itália (Rossellini, 1954) abriram portas decisivas para tudo o que se seguiu, em particular para o Cinema Novo (francês, americano, português, etc.) que emergiu a partir de finais dos anos 50.
A Minha Viagem a Itália retoma o modelo narrativo experimentado por Scorsese nessa outra fabulosa deambulação cinéfila que é Uma Viagem pelo Cinema Americano (1995), também já disponível em DVD — os dois filmes, cada um com cerca de quatro horas, podem ser adquiridos em caixa conjunta ou edições individuais.

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