segunda-feira, janeiro 22, 2007

Discos da semana, 22 de Janeiro

The Good The Bad And The Queen “The Good The Bad And The Queen”
Um supergrupo feito de quatro Galácticos da pop? Damon Albarn, Paul Simonon, Tony Allen e Simon Tong preferem pensar que não. Vêem, antes, esta como uma aventura ocasional. Ou, como chegaram a afirmar por alturas da sua primeira actuação, há poucos meses, em Londres, uma “história” que assim se conta... Uma história que os toma por personagens, buscando depois figurantes anónimos em cenários na Londres dos nossos dias, aceitando a cidade como um conjunto de experiências e heranças que nos obrigam a pensar, necessariamente, em mais que apenas o presente. Damon Albarn já fez questão de apresentar o álbum que agora edita através do colectivo The Good The Bad And The Queen como o “sucessor natural” de Parklife. Na verdade, os retratos da Londres que vive para lá das ruas pejadas de turistas, que escutámos nesse álbum marcante de 1994, não dominaram a escrita subsequente dos Blur, e, naturalmente, não fizeram parte das rotas e destinos dos Gorillaz e outras aventuras em nome próprio que, entretanto, o músico protagonizou. Londres e os londrinos (os de gema e os muitos forasteiros que ali assentaram arraiais) são o objecto de The Good The Bad and The Queen, álbum que faz da cidade uma crónica pop, sóbria, por vezes amarga, desiludida, o tom cinzento que a caracteriza, sobretudo os seus submundos, a assombrar as canções que aqui escutamos. De certa maneira, este é o reverso da medalha da efusiva luminosidade pop de Parklife, as palavras agora mais ponderadas, quase reservadas, por vezes a esconder em si sentidos alternativos possíveis, como se, dez anos depois, o mesmo cenário se enfrentasse com outra gravidade. E claro desencanto. Todavia, musicalmente, há aqui mais que meras heranças de Parklife. Pelo contrário, sentem-se reencontros com a melancolia pop de alguns momentos do discreto Modern Life Is Rubbish (de 1993), passados por um filtro que reteve a então muito evidente presença inspiradora dos Kinks. Por outro, saboreia-se um gosto pela densidade cénica do magistral 13 (de 1999) e pela demanda de novas sensações texturais como se escutou no mais recente Think Thank (de 2003), todavia sob marcas de outras genéticas. The Good The Bad And The Queen é fruto da grande árvore da cultura rock’n’roll, mas deve muita da sua personalidade a uma pulsão rítmica plácida, todavia marcada, reflexo da personalidade de Tony Allen, a um sentido de eclectismo cool, não aristocrata, de genética Clash e, visivelmente, a uma arte final de texturas elaboradas nas quais as escolas dub se afirmam claramente protagonistas. Tudo isto sob a batuta de Danger Mouse, que produz e confere a forma final a um disco único, diferente de tudo o que já escutámos. A primeira obra-prima de 2007!

Nine Horses “Money For All”
Na verdade este é apenas um EP de continuidade. Ou, como quem diz, um episódio intermediário antes de nova operação de grandes dimensões. Mas é um episódio interessante por dois motivos. Em primeiro lugar porque parece solidificar a existência do colectivo Nine Horses como mais que apenas um episódio feliz (assim tinha já sido a última aventura de “banda” com David Sylvian, nos Rain Tree Crow, na verdade, nada mais que o núcleo duro dos Japan reunido anos depois de uma separação corajosa). Em segundo porque nos revela as melhores canções de Sylvian desde o já longínquo Secrets Of The Beehive (1987). Num alinhamento de oito temas (o que dá ao disco o sabor a quase-álbum), três são inéditos, os restantes, remisturas. E entre os inéditos, sobretudo Money For All e Get The Hell Out, reconhece-se, além da evidente presença textural e cénica de Burnt Friedman, um viço pop como poucas vezes Sylvian assumiu nos últimos 20 anos. O EP pede segundo álbum. E, mais que nunca, uma digressão!

The Partisan Seed “Visions Of Solitary Branches”
Há poucos meses, o projecto revelava-se como uma das mais apetitosas “novidades” presentes no suculento caldeirão mp3 que Henrique Amaro coleccionou em Acorda. Integrado no lote que abre a actividade da editora Transporte de Animais Vivos (ligada às Quasi Edições), a confirmação de mais um talento “trovadoresco” de novo milénio. Aqui esvoaçam as genéticas habituais no género (em The Old Garden, o melhor episódio do alinhamento, ecoando a memória de um Nick Drake)l. Filipe Miranda doseia melancolias, mas não fecha a janela a pontuais raios de luz. E Visions Of Solitary Branches oferece, cortesia de uma discreta paleta de colaborações instrumentais e vocais, quadros profundamente pessoais onde a monotonia não se instala nunca. Um belo depoimento de estreia, sem dúvida.

Cold War Kids “Robbers & Cowards”
Correram palcos europeus a acompanhar os Clap Your Hands Say Yeah e por cantos da blogosfera há quem grite por atenção para com estes rapazes... Com razão e nem por isso. Não fosse a boleia dos amigos de Brooklyn, teríamos de esperar ainda algum tempo para ouvir falar destes construtores de híbridos que cruzam paixões por Tom Waits, Velvet Underground, R.E.M. ou Richard Swift e, na hora de trazer as letras à berlinda, falam de Haruki Murakami ou David Foster Wallace. Nada de errado (tudo do melhor)... O álbum de estreia dos Cold War Kids é, imagem de marca desta idade da fragmentação e colagem, um híbrido em busca de personalidade na justaposição daquilo de que mais gostam. Muitos dos temas, na verdade, somam e somam, mas esquecem-se de completar a operação com o sinal de igual... Mas quando o fazem, como em Hang Me Up To Dry, Passing The Hat ou Hospital Beds, revelam sinais bem apetitosos do que potencialmente os espera caso tenham tempo e capacidade de levar a sua avante. Ou seja, banda a manter debaixo do... ouvido.

Sonic Youth “The Destroyed Room – B Sides and Rarities”
Depois de um album feito de canções de formas aprumadas, o reverso da medalha. Literalmente, num disco essencialmente feito da soma de outtakes, faixas extra de edições internacionais, raridades ou lados B (na verdade apenas um tema foi mesmo lado B). Este último, Razor Blade (a outra face do single Bull In The Heather, de 1994, é o que de mais próximo da “canção” (a língua franca de Rather Ripped) aqui se escuta, o grosso do alinhamento consistindo antes em longos instrumentais onde a exploração de texturas e improvisações feitas de pinceladas difusas levam avante sobre eventuais contornos melodistas. Entre devaneios repetitivos, mergulhos meditativos, numa colecção de gravações mais na linha do que têm editado através da sua SYR que na Geffen... Um recado à editora?

Também esta semana: David Bowie (6 reedições), Hold Steady, Paul Weller (DVD), Iggy Pop (live), Architecture In Helsinki (remisturas), The Who (DVD), Joni Mitchell (reedições)

Brevemente:
29 de Janeiro: The Shins, Clap Your Hands Say Yeah, Benji Feree, Kristin Hersh, Field Music, Billy Bragg (reedições), Norah Jones, Dexys Midnight Runners, Sister Sledge (best of), Aretha Franklin (best of), Chumbawamba (live)
5 de Fevereiro: Klaxons (edição local), Bloc Party, Triffids (reedições), Blind Zero (acústico), Philip Glass, Nick Cave (DVD)
12 de Fevereiro: U-Clic, Amy Winehouse (edição local), Van Morrisson (músicas para cinema), Peter Björn & John

Fevereiro: Patrick Wolf, Pop Levi, Bowie (reedições), John Cale (live), Kaiser Chiefs, Tarnation, High Llamas, Frank Black, Stereo Total
Março: Arcade Fire, Air, Bryan Ferry, Mika, The Knife (DVD), Gary Numan (BBC Sessions), Kieran Hebden + Steve Reid, Da Weasel, Arctic Monkeys, LCD Soundsystem, The Stooges
Abril: Rufus Wainwright, Bright Eyes, Spiritualized


Estas datas podem ser alteradas a todo o momento