The Legends “Facts And Figures”
2006 foi um ano cheio de boas notícias suecas, mais as por editar que as efectivamente lançadas no nosso mercado (sendo que, na verdade, os dois melhores frutos da colheita, ou seja, os álbuns dos The Knife e I’m From Barcelona, tiveram devida edição local). Há, contudo, um terceiro álbum “obrigatório” para completar uma possível Santíssima Trindade para a pop sueca de 2006. Chama-se Facts And Figures e confirma, ao terceiro disco, o colectivo The Legends como uma força maior, já capaz de se fazer ao mundo... The Legends? São nove músicos, reunidos em 2003 sob um desafio lançado por Johan Angergard (o timoneiro dos Acid House Kings e Club 8). Nos dois primeiros álbuns, Up Against The Legends (de 2004) e Public Radio (2005), experimentaram vários caminhos, tendo uma pop firmada num gosto indie britânico de meados de 80 por recorrente ponto de partida (e muitas vezes também de chegada). Facts And Figures, o terceiro disco, descola dessa mediania competente para reinventar o colectivo como uma das mais estimulantes aventuras pop feitas de melodismo clássico e ferramentas electrónicas que se dão a ouvir no presente. Imaginemos um híbrido de Acid House Kings com Pet Shop Boys, cruzando características marcas de melancolia nórdica com uma viçosa força melodista feita de teclados cheios e programações sempre mais sedutoras que metronómicas. Ou, se preferirem, façamos um exercício de história alternativa, para aqui encontrar um sucessor natural de Versus, o álbum “electrónico” de 2001 dos Kings of Convenience. Ao classicismo formal, as canções contrapõem aqui histórias de realismo menos garrido, sem contudo o psicologizar. A voz é aí o veículo de uma espécie de neurastenia pop, um cantar dos males do eu, do presente, do real, sob moldura de luz, esperança, como que ansiando por dias melhores. Uma discreta luta de opostos cuja resultante não se anula, antes, vinca as verdades de cada elemento em jogo, conferindo a uma música que habitualmente julgamos apenas lúdica e frívola, uma dimensão carnal, real, actual. Sueca. Claramente sueca.
Carla Bruni “No Promises”
De poetas da língua inglesa, Carla Bruni faz nascer um segundo disco, sucessor natural (cantado em inglês) da sublime estreia de há três anos. Se Quelq’un M’a Dit era um manifesto de intenções, revelando além de uma voz (cantada e autoral) uma relação franca e saudável com heranças da folk e da chanson, No Promises procura dar uns passos em frente, mas sem se afastar muito de uma certa noção de terreno seguro. As palavras são de nomes de referência da poesia em língua inglesa – William Butler Yeats (1865-1939), W.H. Auden (1907-1973), Emily Dickinson (1830-1894), Walter de La Mare (1837-1956), Christina Rosetti (1830-1894) e Dorothy Parker (1893-1967) –, mas sobre elas Carla Bruni fez crescer canções claramente suas. Mantém-se o minimalismo instrumental do primeiro álbum, raros os temperos que acrescenta à voz, guitarra acústica (ocasionalmente eléctrica) e vassouras (sim, literalmente, vassouras de varrer o chão, raspadas sobre tapetes de palha). A produção (novamente nas mãos de Louis Bertignac, fundador dos míticos Téléphone), mais aprumada (todavia nunca formalmente hi fi), procura manter viva a herança folk, pontuando certos instantes a aromas pop. A voz, no fim, assina as canções. Murmurante, doce, sentida, melancólica... Perfeita.
Jóhann Jóhansson “IBM 1401 – A User’s Manual”
Membro do Apparat Organ Quartet (um dos mais estimulantes colectivos musicais islandeses), Jóhann Jóhansson estreia-se na 4AD com um álbum que se afirma como uma homenagem aos sons e design do clássico IBM 1401, um computador em cuja equipa de desenvolvimento colaborou o seu pai. O músico islandês parte, precisamente, de uma colecção de sons emitidos pelo computador, gravados em 1971 pelo seu pai, gravação pela qual se assinalava a paz à sua alma de uma máquina que tinha cumprido a missão e cedia o lugar a outras, mais novas, mais pequenas, mais rápidas. Uma primeira versão desta música nasceu para quarteto de cordas, banda sonora para um bailado. Jóhann Jóhansson trabalhou novos arranjos (de inspiração claramente Goreckiana) para uma versão “sinfónica”, apresentando-a agora no seu quarto álbum a solo. Pensado como uma suite, IBM 1401: A User’s Manual é um monumento de nostalgia por tempos idos na história da cibernética, celebrado em cinco andamentos, essencialmente instrumentais, a voz “figital”, monocromática a irromper ocasionalmente entre texturas e melodias de melancolia nórdica que acentuam um canto por uma certa ingenuidade perdida. Nota final para a “canção” que se revela no quinto andamento, ponte que coloca este disco numa estranha, mas cativante, ponte pela qual discorrem fluentes diálogos entre os mundos da pop e as muitas heranças da cultura clássica ocidental, esta claramente mais próxima dos actuais interesses do músico que em registos anteriores.
JP Simões “1970”
É talvez o mais carismático dos cantores que o Portugal musical da segunda metade de 90 nos revelou, tendo os seus discos com os Belle Chase Hotel (sobretudo o segundo, e magnífico, La Toilette des Etoiles) e Quinteto Tati afirmada a sua presença como uma das mais pessoais e cativantes das vozes da sua geração. Agora estreia-se a solo num disco onde, é pena, as marcas do melómano (leia-se fã) quase afogam as do músico que no passado nos deu já inequívocos sinais de personalidade (que, curiosamente, aflora firme e confiante numa soberba versão de Inquietação, de José Mário Branco). Chico Buarque é claramente homenageado, escondendo-se as canções de JP Simões (sobretudo os arranjos) na sombra das evidentes citações que faz ao músico que, não esconde, claramente admira. Não faltam os bons momentos, um dos melhores em Se Por Acaso (Me Vires Por Aí), onde reencontramos a pena de Pedro Renato.
Brevemente:
22 de Janeiro: The Good The Bad and The Queen, Sonic Youth (lados B e raridades), Field Music, Nine Horses (EP), Hold Steady, Paul Weller (DVD), Iggy Pop (live), Architecture In Helsinki (remisturas), The Who (DVD), David Bowie (6 reedições), Joni Mitchell (reedições)
29 de Janeiro: Klaxons, Clap Your Hands Say Yeah, Benji Feree, The Shins, Kirsteen Hersh, Billy Bragg (reedições), Norah Jones, Dexys Midnight Runners, Sister Sledge (best of), Aretha Franklin (best of), Chumbawamba (live)
5 de Fevereiro: Bloc Party, Triffids (reedições), Blind Zero (acústico), Philip Glass, Peter Björn & John, Cold War Kids
Fevereiro: Patrick Wolf, Pop Levi, Bowie (reedições), John Cale (live), Kaiser Chiefs, Tarnation, High Llamas, Frank Black
Março: Arcade Fire, Air, Bryan Ferry, Mika, The Knife (DVD), Gary Numan (BBC Sessions), Kieran Hebden + Steve Reid, Da Weasel, Arctic Monkeys, LCD Soundsystem, The Stooges
Abril: Rufus Wainwright, Bright Eyes, Spiritualized
Estas datas podem ser alteradas a todo o momento
MAIL