segunda-feira, novembro 13, 2006

Discos da semana, 13 de Novembro

Balla “A Grande Mentira”
Dos vários projectos de Armando Teixeira, Balla é aquele que o músico habitualmente aponta como o que lhe está mais próximo. E, talvez por isso, aquele em que mais evidentemente surgem reflexos claros de um processo de amadurecimento que, ao longo dos anos, dele têm feito um nome de referência no nosso panorama pop. Três anos depois de Le Jeu e seis volvidos sobre Balla (e dez sobre o Tango Infernal dos Boris Ex Machina, onde se lançam primeiras ideias neste sentido), o novo álbum não só revela marcas do tempo que passou, como a solidificação assimilada de uma série de linguagens que Armando Teixeira hoje domina. Inclusivamente na construção das letras, tão honestas, escorreitas e plenas de vontade em dialogar com o ouvinte como nunca antes tinha revelado. A Grande Mentira é o melhor disco de Balla e um dos raros momentos discográficos do Portugal de 2006 que merece aplauso. É um disco de canções sóbrias, arranjos precisos, nunca afogando a canção em artes finais despropositadas. Pop em partilha com uma pulsão de personalidade ao jeito do que ouvimos em cantautores, o cinema ainda como companhia próxima (e aí eventuais familiaridades com a obra de Barry Adamson, visíveis em Junk e Vou fazer-te Brilhar). A fechar um lote (de dimensão correcta) de dez canções, o Oub’Lá dos Mão Morta em leitura devidamente travestida com elegância, à Balla. Há já algum tempo que se não ouvia pop assim entre nós!

Jarvis Cocker “Jarvis”
Valente desilusão! Apesar de recrutar para o alinhamento, regravando na sua voz, as duas belas canções de travo retro, na linha da melhor pop ligeira de 60, que deu há um ano a Nancy Sinatra e de usar, mesmo escondido 25 minutos depois da última canção, o bem interessante Running The World, o álbum é um banal desfile de... nada. De facto, salvo estes três fugazes instantes, aos quais juntamos um quarto, Big Julie, de discreto tempero à la Pulp, todo o restante alinhamento é penoso desfile de banalidade pop/rock para guitarras deslavadas, melodias inconsequentes e charme zero. Resta saber se este é um tropeção ocasional (e todos temos direito a momentos menos inspirados) ou se Jarvis era, afinal, apenas a cereja sobre um bolo doce a que chamávamos Pulp...

Albert Hammond Jr. “Yours To Keep”
Em tempo de ferias dos Strokes, o guitarrista Albert Hamond Jr edita um delicioso álbum de luminosa guitar pop, a solo. O álbum conta com uma série de convidados de luxo (de Sean Lennon a Jody Porter, dos Fountains of Wayne), resgata e transforma algumas canções apresentadas em discos e concertos dos Strokes e, sobretudo, revela uma alma tranquila, capaz de explorar tanto as heranças da new wave como recontextualizações urbanas de heranças folk, oferecendo-nos um híbrido que nada fica a dever à eventual curiosidade que sucesso da banda a que pertença eventualmente aqui projecte. O disco tem vida própria, personalidade bem afirmada (pontualmente em evidente sintonia com os Strokes, como sucede em In Transit, o que é apenas natural).

Depeche Mode “Best Of – Volume 1”
Mais um best of dos Depeche Mode?. Eles que editaram uma colectânea em 1985, duas outras, de revisão integral de singles, em finais de 90, mais seis caixas com singles... Que há de novo, então, aqui? Martyr, o novo single, é dispensável sobra, tão inconsequente e descartável quanto o foi Only When I Loose Myself, da antologia de 1998... O restante alinhamento, naturalmente, é feito de pérolas centrais à história pop de 80 e 90. Mas é no DVD que se justifica a edição. Sobretudo nos telediscos anteriores a Black Celebration (1986), cinco deles aqui trazidos à era digital pela primeira vez: Just Can’t Get Enough, Everything Counts, People Are People, Master and Servant e Shake The Disease. Fracos, quase medíocres, é certo, despidos de uma ideia de imagem, mas essenciais no relato de uma história que corria o risco de ver a etapa visual de 1981 a 85 fechada na memória de um VHS com mais de 20 anos. E só por isto, a coisa já vale a pena.

Também esta semana: Jamiroquai (best of), Tributo folk aos Beatles, Joanna Newsom, Damien Rice, Albert Hammond Jr, Pet Shop Boys (DVD), Ann Pierlé, Stowaways, Gnarls Barkley (ed especial), Neil Young (live 1970), Xutos & Pontapés (DVD), Mark Stewart, The Jam (caixa de singles), The Best Of Bond

Brevemente:
20 de Novembro: Cool Hipnoise, Beatles, Crowded House, Rammstein, Tom Waits, U2 (best of), Foo Fighters (live), Nine Inch Nails, Clinic, Weekend (reedição), Doors (caixa 6 CD + 6 DVD), Yannn Tiersen (ao vivo), Rodrigo Leão (best of)
27 de Novembro: Tori Amos (caixa), Joseph K (antologia), Pavement (reedição), Chumbawamba, Steve Reich (caixa), Johann Johansson
4 de Dezembro: Humanos (ao vivo), Sam The Kid, Heaven 17 (best of)

Dezembro: Sonic Youth (lados B)
Para 2007: JP Simões, U-Clic, Klaxons, The Good The Bad and The Queen, Mika, John Cale

Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento

MAIL