Passou esta semana, pelo Quarteto, o filme Gypo, da inglesa Jann Dunn, uma das melhores longas metragens em competição na décima edição do Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa. O filme corresponde certamente a um dos mais baixos orçamentos entre as longas metragens em competição, recorrendo a realizadora e produtora apenas aos seus cartões de crédito. Daí, todavia, nasceu um filme não só internacionalmente premiado, como até comercialmente bem sucedido, garantindo a sua visibilidade o dinheiro suficiente para uma nova produção da mesma equipa, e que contará com Bob Hoskins como protagonista.
Gypo, que aceita as regras Dogma 95 (fintando, apenas, numa cena, a proibição de usar som não directo) é a pungente história de três personagens , duas delas Helen (Pauline McLyn, uma acriz veterana sobretudo com história feita em papéis de comédia) e Paul, casal de classe proletária inglesa residente em Margate, a outra sendo uma jovem refugiada checa, alvo de manifestações de cruel discriminação apenas e tão só pelo facto de ser uma sem-país. A desagregação do do casal é acelerada pela palavras e acções desagradáveis, ensopadas em xenofobia primária, que Paul lança contra a jovem checa que, por sua vez, acabará por lembrar a Helen o que é atenção e amor, verdades que um casamento de 25 anos há muito esqueceu (se é que alguma vez conheceu).
Dividido em três partes, cada qual centrada numa das três personagens, a história é servida de pontos de vista distintos, uns completando as revelações dos outros. Engenhoso golpe de asa narrativo sobre um argumento sólido e interpretações convincentes. Ao contrário da esmagadora maioria dos “dogmas” já conhecidos, este filme toma-o por necessidade de resposta de meios perante uma história a contar e não apenas como dispositivo formal para dar que falar. Um filme a trazer para o circuito comercial nacional!