terça-feira, agosto 08, 2006

Sudoeste 06.04

O Sudoeste 06 terminou com a confirmação que a música não é mais a prioridade na hora de decidir estar presente para a maioria dos presentes (adolescentes, em missão que faz da peregrinação ao festival uma espécie de ritual de passagem). Isto, contudo, não nos impediu de ver dois concertos de absoluta excepção. Um deles em regime de espectáculo maior para tecnologia e boca aberta de espanto. O outro a mostrar que, apesar de tudo, a música acaba sempre por ser capaz de nos surpreender e arrebatar.
No primeiro caso falo concretamente dos Daft Punk, em rara actuação ao vivo, mais uma performance multimédia que um concerto de música. Na verdade a actuação propõe três sequências de música, colagens e misturas de elementos tirados das suas canções, samples reestruturados, recontextualizados, trip digital construída sem descuidar nunca a pulsão dos baixos que suportam a convocação dos corpos à dança. Sobre esta banda sonora os dois franceses construíram uma encenação de ostensiva exposição de meios tecnológicos entre luzes e ecrãs LCD, uma pirâmide no centro do palco, no topo da qual habitam os dois músicos, as máscaras de robots sempre colocadas sobre as suas cabeças. Há por aqui sinais da assimilação do conceito de desvio das atenções do músico para o espectáculo visual que o envolve que em 2004 vimos na soberba digressão dos Kraftwerk. E, também, heranças de uma grandiosidade cénica que muito deve aos pioneiros concertos electrónicos de… Jean Michel Jarre!
Mas apesar de meio mundo falar dos Daft Punk como o momento do festival, o mais diecreto concerto de Final Fantasy foi o melhor instante musical dos quatro dias e é, até ao momento, o que de melhor se viu em palco de música popular, este ano, por estes lados. Absolutamente só em cena, apenas munido do seu violino, pedais ligados a samplers e uma expressiva, quase teatral, capacidade de traduzir pelas feições aos ambientes que sente e respira, Owen Pallett conquistou e arrebatou os que se concentraram e encheram a tenda onde se ouviu alguma da melhor música do festival. A construção ao vivo, em directo, de pedaços de elementos que sampla e gere com os pés descalços (para melhor sentir os pedais e botões dos samplers), usando como fonte de som não mais que o violino e a voz dão corpo ao entusiasmo e espanto que o concerto projecta na plateia, as canções sendo depois celestial banda sonora para puro prazer pela música. Genial. Valeu o festival.

Em tempo de balanço, aqui fica a lista do que de melhor e pior se escutou no Sudoeste:
O Melhor: Final Fantasy, Daft Punk, José Gonzalez, WhoMadeWho (segundo relatos credíveis, que nessa hora via outro concerto), Nouvelle Vague, Gaiteiros de Lisboa, David Fonseca, 2008, Goldfrapp e o set de Afrika Bambaataa.
O Pior: Mattafix, a inconsequente dose de Revistados, Animal Liberation Orchestra, Gentleman, The Prodigy. E, claro, a inenarrável Skin.

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