quarta-feira, agosto 23, 2006

Há 80 mil anos...

É, seguramente, um dos mais bizarros de-safios cinematográficos que se possa imaginar: elaborar o retrato dos homens pré-históricos (ou da pré-história dos homens) nesse momento emblemático — calcula-se que há 80 mil anos — em que se dá a descoberta do fogo e, mais do que isso, a sua integração nas relações e estruturas humanas. O francês Jean-Jacques Annaud dirigiu A Guerra do Fogo (DVD: Costa do Castelo) em 1981, portanto há 25 anos, mas é um facto que o seu filme não perdeu nada dos seus efeitos desconcertantes e, em muitos aspectos, perturbantes. Assistimos, afinal, à eclosão de novas formas de organização do quotidiano que são também novos mecanismos de influência e poder de uns seres humanos sobre outros seres humanos. Mais do que isso: estamos perante o nascimento de um sistema de relações com os elementos naturais que, em boa verdade, continha também as sementes de uma nova concepção da natureza e do seu envolvimento com o factor humano. Dir-se-ia que, se fosse possível imaginar um documentário feito há 80 mil anos, esse documentário teria esta forma de... ficção.

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