Não será que andamos já todos (enfim, sem ofensa: quase todos...) cansados dos telediscos de hip hop que confundem ritmo, emoção e narrativa com a caótica multiplicação de planos? Não será tempo de, serenamente, lembrar pela milionésima vez que a "aceleração" dos tempos narrativos nada produz se menosprezar esse imaculado valor que é a duração? E que a "velocidade" das imagens não é nenhuma garantia de qualquer tipo de intensidade? Faz-nos falta, afinal de contas, algum amor pela possibilidade de uma imagem se combinar com outra, não para gerar a ilusão de que se vai muito "depressa", antes para construir algo de novo: one+one, como diria Monsieur Godard. Regressemos, então, a algo de cristalino. Voltemos a ver uma pequena pérola em que a vertiginosa montagem de muitos planos (por vezes, de brevíssima duração) se faz a partir de um dispositivo de sábia criação de ritmos e contrastes e também, claro, de perverso envolvimento com o que se vai ouvindo. A saber: David Bowie em Hallo Spaceboy Remix, versão resultante de uma fascinante colaboração com os Pet Shop Boys a partir de um tema original do álbum Outside (1995). A realização é de David Mallet. E se é para andar depressa, ao menos que aconteça alguma coisa...