segunda-feira, julho 10, 2006

Tudo acaba...

Hoje à noite o ecrã far-se-á branco para assinalar a última das mortes de Sete Palmos de Terra. Ou seja, a da própria série. A 2: transmite pelas 22.30 o 63.º e último episódio de uma saga familiar que o canal tomou como estruturante na sua grelha (e personalidade). O último de uma série que, como poucas, gerou justificado culto, que hoje se despede de uma rotina de segunda-feira à noite, ao fim de cinco anos de exibição.
Como subtítulo para a quinta e derradeira época de episódios, Sete Palmos de Terra usou a expressão "everything ends" (tudo acaba). Nada mais que o reafirmar da certeza única que todos temos: a da morte, um dos muitos medos que a série tomou como matéria-prima para cinco anos de histórias em volta de uma família peculiar. Sete Palmos de Terra ganhou notoriedade e adeptos por uma vasta colecção de ingredientes usados na confecção dos seus episódios. Claramente liberal, sem receio de convocar alguns tabus que ainda arrepiam a América mais conservadora (a morte, a homossexualidade, as drogas, a desagregação da família, a noção da vida artística como um destino profissional viável), sem pruridos também na desmontagem de uma sociedade que procura paz no divã do psicanalista, Sete Palmos de Terra tomou como núcleo de "trabalho" a disfuncional família Fisher.
Agentes funerários (a série reflecte e projectou mais ainda o culto do belo-morto nos EUA), os Fisher receberam, semana após semana, defuntos cujas histórias e universos somaram temperos à narrativa da saga familiar que cruzou os 63 episódios. A morte, sem convocação de teses religiosas determinantes, sem leituras obrigatórias, sem misticismos de meia-tigela, é o tutano de Sete Palmos de Terra. E não foi por acaso que Alan Ball, o criador da série, projectou a acção em Los Angeles, cidade que considera ser a "capital mundial da negação da morte". E, inevitavelmente, de morte tratará o último episódio, o mais longo da série (com cerca de 75 minutos).
Tem por título Everyone's waiting, expressão dita numa aparição do falecido Nate num diálogo com a irmã Claire. Esta será a figura central do episódio, num debate entre um sonho de carreira em Nova Iorque e um "dever" familiar em casa... Alan Ball fez questão de terminar a saga com incontornáveis pontos finais. O ecrã branco surgirá, revelando a lápide de... E ao som de Breathe, de Sia Furler.
PS. Este texto integra um pequeno dossier sobre 'Sete Palmos de Terra' hoje publicado no DN.

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