sexta-feira, julho 28, 2006

Soderbergh (só) com legendas

O filme chama-se Bubble e nele se conta uma história, ao mesmo tempo banal e cruel, de um assassinato numa pequena cidade dos EUA, envolvendo uma galeria de personagens que trabalham num fábrica de bonecas — objecto de um espantoso e inquietante minimalismo realista, alicerçado numa inovadora utilização dos meios digitais (esteticamente remetendo para a produção de Hollywood, em plenos anos 50, marcada pela emergência do formato CinemaScope) Bubble é, muito simplesmente, no contexto português, um dos momentos marcantes de 2006.
Com Bubble, Steven Soderbergh arriscou uma estratégia cujos efeitos práticos e simbólicos ainda não podemos medir: o lançamento simultâneo, nos EUA, em sala, DVD e na televisão por cabo. Em Portugal, o filme sai apenas em DVD, o que, não deixando de ser positivo (antes isso que o completo esquecimento comercial), impede que o descubramos num grande ecrã para o qual, obviamente, também foi concebido.
Ponto muito negativo da edição em DVD é o facto de a opção de legendas... não existir. Isto porque só é possível ver o filme... com legendas. Não é caso único no panorama recente do mercado, o que faz temer que se esteja a desenhar mais uma "tendência" típica do novo-riquismo que invade todos os campos da vida cultural. Sendo o DVD, por princípio, um sistema que favorece a multiplicação das opções do consumidor, obrigar esse mesmo consumidor a ter sempre legendas num filme é um absurdo que, em última instância, o poderá repelir — até porque no mundo global em que vivemos, a maior parte dos interessados tem acesso automático a compras noutros mercados, capazes de satisfazer as suas opções de consumo.

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