Devo confessar que me não surpreendeu, em nada, a confirmação oficial do cancelamento dos Depeche Mode em Alvalade. Quando foi anunciado, pareceu mais olhos que barriga. Assim foi! Meses volvidos sobre casa cheia no Pavilhão Atlântico (e em noite apenas “médio mais”, banda em evidente piloto automático e alinhamento demasiado fácil, sem atenção a pérolas passadas com as quais o fã gosta de ser surpreendido), quem imaginaria novo sucesso retumbante? E logo num estádio? Quem os queria ver, já viu. E quem queira, mas não conseguiu bilhete, encheria novo Atlântico? Talvez, no dia seguinte… Mas agora, quem desejaria repetir a dose, salvo o fã indefectível ou o comprador de última hora, desapontado por não ter já conseguido bilhete na última vez? Com a economia doméstica do português médio nas lonas, e uma oferta de espectáculos em excesso (dada a realidade económica actual, entenda-se), as decepções começam naturalmente a fazer notícia. Veja-se o que sucedeu com os Sigur Rós há dias, mais um caso de repetição antes do tempo.
O mercado nacional é pequeno e muito limitado. A vontade em ver os grupos de que se gosta existe, claro. E é verdade que os Depeche Mode viveram o seu maior sucesso editorial português com o último álbum. Mas daí a imaginar dois concertos num intervalo de menos de um ano, o segundo em espaço talvez sobredimensionado para a realidade da sua base de fãs, e ainda por cima em tempo de férias e festivais, dá nisto.
O cancelamento dos Depeche Mode, de que Gary Numan, ao telefone ontem de manhã, já me tinha dado sugestão, é má notícia para um país que se julgava já no mapa dos grandes roteiros live europeus. Para todos os efeitos, corre já a notícia, entre agentes internacionais, que um concerto com uma banda de primeira divisão foi cancelado em Portugal. E ninguém se preocupará a explicar, a esses mesmos agentes, o antecedente do desaire, ou seja, casa cheia para 20 mil almas “satisfeitas” alguns meses antes… Não nos admiremos, agora, de cautelas maiores em futuras digressões de nomes de primeira divisão… Antes de assinar uma data lusitana, muitos certamente pensarão duas vezes…
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