TV On The Radio “Return To Cookie Mountain”
Não era por acaso que este era um dos mais aguardados álbuns deste Verão. O seu disco de estreia, Desperate Youth, Blood Thirsty Babes (2004) revelara uma torrente de ideias à espera de tempo e rodagem para as ordenar e delas fazer nascer mais num estimulante híbrido, representativo portanto das tendências artísticas do tempo em que vivemos. Assim foi e em Return To Cookie Mountain não só a casa está arrumada, como à face esteticamente actual e interventiva o grupo de Brooklyn acrescenta uma postura política que sabe pensar acima dos clássicos (estafados e cada vez mais anacrónicos) duelos entre esquerda e direita, procurando antes uma nova forma de pensar o presente, onde vivemos, com quem vivemos, o que nos rodeia. De resto, os TV On The Radio já nos tinham mostrado serem capazes de uma postura política interventiva, menos panfletária, mas mesmo assim eficaz, quando, no rescaldo do furacão Katrina, compuseram, gravaram e colocaram no seu site uma canção denunciando a má gestão dos eventos pela administração Bush. Sem travar a intensidade das ideias, a força dos acontecimentos ou o volume da música, um sentido de calma parece atravessar um disco mais claro, sem receio de assumir claramente as suas influências, experimental ainda, mas de evidente sangue pop. Samples de guitarras, pianos, baixos distorcidos, texturas elaboradas, ritmos que não temem o hip hop ou outros ventos, overdubs vocais (a lembrar, à distância, e noutro contexto, a complexidade de eventos de uns Beach Boys em meados de 60)… E também a voz convidada do confesso admirador David Bowie, em Province. Este é um disco que sabe bem ir descobrindo aos poucos, Um mundo de detalhes que se desvendam a cada audição. Uma recomendável sugestão para acabar de vez com a ideia que o Verão é silly.
Regina Spektor “Begining To Hope”
Depois dos sinais encorajadores do anterior Soviet Kitsch, o novo disco da jovem cantaurora russa crescida e educada em Nova Iorque promete dela fazer uma das cantauroras de referência para a geração 00. Filha de um pai que escutava discos ocidentais às escondidas e de uma professora de piano de Moscovo, herdou tanto um travo de rebeldia nas ideias como um sentido de aprumo e exigência nas formas. A Perestroika permitiu-lhe sair de Moscovo com a família, e aos nove anos de idade viu-se em Nova Iorque, onde a exposição à música de Joni Mitchell e Ani di Franco se mostrou determinante paleta de iniciação a novas influências. A sua música hoje revela ainda a presença de Billie Holliday, Tori Amos e Patti Smith, cruza genéticas captadas na música clássica, na folk, na alma russa, revela um gosto pela literatura que se descodifica em referências a nomes como Scott Fitzgerald, Hemingway ou Boris Pasternak… Regina Spektor escreve assumidas ficções, luminosidade ou introspecção projectadas em personagens não necessariamente autobiográficas. O novo disco traz a revelação de outras ambições, uma delas a de evidente desejo de transcender ao circuito free folk ao qual esteve em tempos associada, sem que tal implique um processo de ruptura. Pelo contrário, as marcas dos trilhos que percorreu nos últimos discos encontram aqui uma produção mais meticulosa, arranjos depurados, mais exactos. Máquinas e instrumentos “reais” em diálogo frutuoso. E uma voz que conquista. Depois das cartas de intenções dos discos anteriores, este é o disco que nela confirma grandes esperanças nesta que é uma das cantautoras da geração actual na qual mais podemos acreditar.
Thom Yorke “The Eraser”
Enquanto os Radiohead trabalham num disco novo (espera-se que em rota de afastamento do passo no sentido da banalização do seu som que se escutou no apenas mediano anterior Hail To The Thief), Thom Yorke edita um primeiro disco a solo. É essencialmente electrónico, claro herdeiro de experiências levantadas nos excelentes Kid A e Amnesiac, mas sem a culinária de temperos variados que o colectivo soube então acrescentar à matriz nascida entre máquinas. Mas na verdade, pouco de ostensivamente novo ou diferente mora nestas canções. Estão aqui as mesmas obsessões, a mesma aparente necessidade compulsiva de projectar ideias em canções. Estão aqui as marcas da produção texturalmente meticulosa de Nigel Godrich. Estão aqui as projecções inevitáveis de uma eventual opressão pela fama e sucesso. Mas não vamos muito mais longe. Estão aqui as canções que se imaginavam depois de Kid A e Amnesiac. Num registo semelhante, plim plim plim e muito sofrimento encenado (não dizemos que não seja verdadeiro). Argumentos e personagens repetidos. E sem a escrita superior que fez desses dois discos dos Radiohead duas referências da presente década. Um mais-do-mesmo. Que cansa e não estimula muito…
Vários “Paint It Black”
Paint It Black não é um tributo aos Rolling Stones. É, antes, uma colecção de versões de originais da banda, gravadas desde meados de 60. Reúnem-se assim históricos seus contemporâneos (e confessos admiradores) como Otis Redding, Aretha Franklin, David Bowie ou a dupla Ike & Tina Turner, ou discípulos de várias gerações, de Bryan Ferry aos Thunder. É uma galeria interessante de leituras, sobretudo no departamento soul (no qual se amplificam as raízes bluesey de Jagger, Richards e Brian Jones) ou em aventuras de visão maior como o faz Bryan Ferry num Simpathy For the Devil de 1973. Mas é uma recolha irregular, muito cheia de lixo banal e incompleta. Há por aí mais e melhor, bastando evocar o (I Can’t Get No) Satisfaction dos Devo, para ver que muito ficou por contar.
E também: The Czars, Vitalic, Sebadoh, Michael Franti, Vetiver, Danielson, Peaches, Jesus & Mary Chain (reedições), Ultravox (reedições)
Brevemente:
17 Julho: Lisa Germano, Envelopes, Pet Shop Boys (DVD reedição), Seu Jorge (DVD), Happy Endings (BSO com Calexico, Black Heart Procession, etc), Gaiteiros de Lisboa, Moloko (best of), Lilly Allen, Who Made Who (versões verdes)
24 Julho: Sufjan Stevens, Nitzer Ebb (best of), Comsat Angels (reedições), New York Dolls
Discos novos ainda este ano: Spartak, Woman In Panic, U-Clic, Protocol (Verão), B-52’s, Beyoncé (Setembro), Blur, Bryan Ferry, Cornershop, Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Verão), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Julho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Setembro), Sisters Of Mercy, I’m From Barcelona (Agosto), Clinic (Outono), Coachella (DVD, em Julho)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral), Siouxsie & The Banshees, Lilac Time, The Cure, Heaven 17 (reedições em Agosto), Lou Reed (reedição), Pulp (reedições em Agosto)
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
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