
Numa visão rápida, podemos descrever Eu e Tu E Todos Os Que Conhecemos como um conjunto de vidas que se encontram em volta de um núcleo familiar constituído por um pai divorciado e seus dois filhos, estes dois frutos da idade da Internet, o mais pequeno entrando em chats mesmo sem ainda dominar a escrita, usando técnicas de cut and paste (os seus diálogos online, e eventuais consequências, são dos momentos mais espantosos do filme). Em volta mora uma muito jovem rapariga que colecciona electrodomésticos para um enxoval de sonho, um adulto de barriga já pronunciada que é alvo da provocação de duas adolescentes. Mais distante fisicamente, mas cruzando-se a dada altura com o “pai” acima citado, na sapataria onde este trabalha, uma jovem taxista (que apenas transporta idosos), que nas horas vagas sonha (e realiza) projectos artísticos em vídeo. Esta figura é interpretada pela própria Miranda July, num papel com evidentes traços autobiográficos e uma história artística que não deixa de parodiar o circuito das elites intelectuais, nomeadamente na figura de uma directora de museu que terá de enfrentar para tentar levar o seu projecto do anonimato do seu T zero de paredes cor de rosa às salas de exposição. Um olhar crítico, mas positivo, saudável, luminoso, sobre o mundo urbano em que vivemos, elixir saudável num momento em que a maior parte das visões do mundo moderno em cinema parecem casos de depressão a pedir urgente psicoterapia. Uma das revelações do ano!