quinta-feira, junho 29, 2006

O 'biopic' da mamã

Preocupações de mãe? Ou apenas mais um bom negócio? A “mãe” Buckley (ou seja, Mary Gibert) vai controlar a criação de um biopic dedicado ao filho Jeff Buckley. O realizador Brian Jun estará ao leme do projecto, que a mãe do falecido músico diz ser agora possível depois de ter visto filmes como Ray (não deve ter visto o mesmo filme que eu…) ou Walk The Line, no qual sentiu outra forma de abordagem por Hollywood a figuras do meio musical… Mary já afirmou publicamente que durante muitos anos se mostrou céptica a uma abordagem cinematográfica à memória do filho, mas tomou as rédeas de um projecto quando, há um ano, o produtor Train Houston comprou os direitos do livro Dream Brother: The Lives And Music Of Tim & Jeff Buckley, de David Browne, para sua eventual transformação em filme. Mary afirmou mesmo que não gostava da ideia de um filme sobre o filho acontecer sem a sua participação, o que teria sucedido com esta adaptação de Train Houston, entretanto gorada.
E voltamos à questão de abertura. Desde a morte de Jeff temos visto a mãe “Buckley” a gerir, literalmente, as migalhas de música que o filho deixou. Podemos reflectir sobre a decisão (houve quem lhe chamasse vampírica) de permitir a edição de sessões rejeitadas pelo filho para My Sweetheart The Drunk, segundo álbum no qual trabalhava quando morreu. Ou seja, o acto de trazer a público uma obra que o autor havia decidido não ser, ainda, a que queria levar a disco. E, como se isso não bastasse, aprovou (ou terá sido apenas vontade da editora?) edições ao vivo, caixas, lançamentos especiais, uns atrás dos outros...
É certo que Jeff Buckley é um dos mais venerados ícones indie da geração de 90. Mas que verdades poderemos esperar de um biopic feito por quem tem nas mãos a gestão dos seus direitos e imagem? E, claro, é certo que poucos dos seus admiradores, porque conhecem a sua música, vão acreditar num Jeff politicamente correcto. Ou, pelo menos, “miticamente” correcto… A referência ao descaradamente “certinho” (e absolutamente desinteressante e popularucho) Ray é, já por si, um sinal pouco animador do que podemos esperar.

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