quarta-feira, junho 07, 2006

Morreu o "quinto beatle"

Ao longo dos anos, vários parceiros de trabalho receberam a distinção de ser o “quinto beatle”. George Martin pela quase omnipresença (determinante, de resto) em estúdio. Brian Epstein pela dedicação plena, manager-modelo de referência. E, acima de todos, aquele que com eles partilhou espaço em estúdio e ao vivo (na mítica actuação no telhado da Apple, em Londres, onde foi presença fundamental em Get Back), tocando a seu lado e desempenhando mesmo, a dada altura, o nó último em busca da coesão numa banda a caminho da inevitável separação. Ele chamava-se Billy Preston e morreu ontem, aos 59 anos, em Scottsdale, no Arizona, ponto final num percurso de vida há muito assombrado por uma doença renal grave, últimos tempos vividos em estado de coma.
Billy Preston, a quem Miles Davis um dia dedicou uma compsição (dando-lhe mesmo o seu nome), nasceu no Texas em 1946, mas viveu grande parte da sua infância em Los Angeles, onde aos três anos começou a aprender a tocar piano, aos dez acompanhando já a grande Mahalia Jackson, algum tempo depois tocando como pianista nas bandas de Little Richard e Ray Charles. A sua actividade, sobretudo nas décadas de 60 e 70 levou-o a colaborar com alguns dos maiores vultos musicais de então, entre os quais Aretha Franklin, Sly Stone, Bob Dylan, The Rolling Stones, Ray Charles, Sammy Davies Jr, Quincy Jones, George Harrison, Eric Clapton e, claro, os Beatles. Estes foram, de resto, os parceiros que mais projectaram mediática e musicalmente a presença de Billy Preston perto de si, o teclista sendo um dos dois músicos exteriores aos fab four a ser creditado em singles seus. Com os Beatles, Billy Preston foi a força de coesão quando a desagregação se começava a tornar evidente durante as sessões de Let It Be, estando também presente em Abbey Road. A sua ligação ao grupo valeu-lhe um acordo editorial com a Apple Records, para a qual se estreou em 1969 com o álbum That’s The Way God Planned, dando continuidade a uma carreira discofráfica a solo encetada em 1965 dividida entre o gospel e derivações R&B, muitas vezes secundarizada perante os ícones de primeira linha com quem foi trabalhando.
Depois da separação dos Beatles, Billy Preston trabalhou regularmente com George Harrison (foi o teclista no mítico Concert For Bangladesh), e chegou ainda a participar em discos a solo de John Lennon e Ringo Starr. Mas foi também depois do fim dos Beatles que se “mudou para a concorrência”, colaborando numa série de álbuns fundamentais dos Rolling Stones, nomeadamente Sticky Fingers, Exile On Main Street, Goats Head Soup, It’s Only Rock’N’Roll e Black And Blue. Chegou mesmo a fazer uma digressão como artista de suporte dos Rolling Stones, registo em disco apresentado em Live In Europe, de 1973 (com Mick Taylor como guitarrista). Um desentendimento com dinheiros separou-o dos Stones em 1977, tendo contudo continuado a colaborar pontualmente em discos a solo de alguns dos membros do grupo, pazes feitas mais recentemente, com presença no álbum de 1997 Bridges To Babylon.
Os anos 80 foram sombrios para Billy Preston, com casos de polícia e curas de desintoxicação de álcool e droga a fazer mais notícias que a sua música. Só nos anos 90 a maré virou, com momentos de maior visibilidade numa digressão com Eric Clapton. A edição da versão “crua” de Let It Be (sob o título Let It Be Naked) despiu os malabarismos de Phil Spector e revelou a presença determinante de Billy Preston nesse disco dos Beatles. Já este ano vimo-lo a colaborar num dos temas do mais recente álbum dos Red Hot Chili Peppers e no muito elogiado 12 Songs de Neil Diamond.

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