Sonic Youth “Rather Ripped”
Depois de alguma ousadia e experimentação nos dois soberbos discos anteriores, um disco de canções de recorte clássico, sem surtos de electricidade indomada, sem desconstruções formais. Tranquilas, quase. Mas num disco pleno de marcas de identidade, das guitarras às vozes (Kim Gordon extraordinária, mas Lee Ranaldo e Thusrton Moore também em forma). Dissonâncias e texturas eléctricas também presentes, contudo em dieta não apenas restritiva, antes pensada segundo critérios diferentes. Rather Ripped mostra em pleno o seu domínio sobre a arte da canção, reflectindo naturalmente a presença de escolas indie que percorreram e até catalisaram, evidentes que são as familiaridades pontuais com marcas remotas de uns Pavement, dos Pixies no berço e, acima de tudo, a sua própria memória na primeira pessoa da etapa de finais de 80 que fez dos Sonic Youth uma das mais importantes referências da sua geração. O disco propõe uma colecção de 12 magníficas canções nas quais as três vozes alternam o protagonismo vocal, todas elas sólidos monumentos de composição segura e característica, algumas inesperadamente capazes de se nos colar aos ouvidos (sobretudo as cantadas por Kim Gordon, como o soberbo Reena ou o espantoso Incinerate, de Thurston Moore). Este é um álbum de invulgar luminosidade, de formas estruturadas, claras e bem definidas, de melodias sem receios, mais carnal que intelectual, de uma evidência pop inteligente e saborosa, porém estilisticamente fiel a uma linguística claramente demarcada. A renovação das ideias na etapa em que Jim O’Rourke habitou entre a banda foi notória e gerou belos discos. Mas, de volta ao seu formato “tradicional”, os Sonic Youth reencontraram raízes no seu passado e gravaram, em Rather Ripped, um dos seus melhores discos de sempre.
Scritti Politti “White Bread, Black Beer”
Depois de um desastroso regresso no incoerente e incaracterístico álbum de regresso em 1999 (do qual já nem quase reza a memória), os Scritti Politti regressam ao seu som “clássico” de meados de 80, reencontrando neste seu quinto álbum de originais uma série de referências com raiz evidente no histórico Cupid & Psyche ’85. Este é um álbum quase dominado por discretas baladas feitas de electrónicas e pontuais guitarras acústicas, onde a voz de Green Gartside reencontra o cenário ideal para os seus sonhos pop. Não é um disco ao nível dos seus primeiros registos mas, mais que o “fácil” Provision (de 1988), este é o sóbrio sucessor que Cupid & Psyche ’85 em tempos pediu, e nunca aconteceu. Mais vale tarde que nunca!
Primal Scream “Riot City Blues”
Os Primal Scream devem ser a banda mais sobrevalorizada da história recente da música inglesa. Viveram um episódio de excepção em Screamadelica (1991), e quase repetiram o momento de inspiração no igualmente visionário Vanishing Point (1997). Mas o resto da sua obra é feita ora de citações a papel químico (o álbum de estreia é Byrds puro, o de 1994 é Stones de finais de 60) ora de equívocos de gosto duvidoso (particularmente o inconsequente XTRMNTR). Pois há um novo disco em cena. E em que departamento entra? O do copismo, bem feito, é certo, apontando novamente os azimutes aos devaneios de 1994 não só convocando a memória dos Rolling Stones, como sobretudo a dos blues que lhes serviu de código genético. Um bom single a abrir o alinhamento em Country Girl. E o resto é para quem gosta. Não é o caso…
Feist “Open Season”
Vale a pena fazer álbuns de remisturas, com extras, quando os há (remisturas e extras) capazes de justificar uma edição (como em 2001, por exemplo, se viu com o excelente álbum “electrónico” dos Kings Of Convenience). Não é o caso. Feist convoca aqui remisturas e colaborações, numa selecção de temas para “despachar” em lados B de segunda, elevados a coisa aparente importante num alinhamento, afinal, inconsequente. Uma perda de tempo, salvo a soberba remistura Postal Service para Mushaboom.
Também esta semana: Troy Von Balthasar, Dominique A, The Wrens, Velvet Underground (antologia), Ed Harcourt, Paul Simon, Zero 7, Abba (best of de 1976)
Brevemente:
12 Junho: Daniel Johnston, Infadels, The Upper Room, Catpeople, Whitest Boy Alive, Kudu, Triffids, Paul Weller, Barry Adamson, Black Heart Procession,
19 Junho: Divine Comedy, John Cale (reedição), Frank Black, Nouvelle Vague
Discos novos ainda este ano: Spartak, Woman In Panic, Wordsong, U-Clic, GNR (best of com inéditos, em Junho) Muse (Julho), Lisa Germano (Julho), Protocol (Verão), Thom Yorke (Julho), B-52’s, Beyoncé (Setembro), Blur, Bryan Ferry, Cornershop (Junho), Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Junho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Junho), Michael Nyman (Junho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Paul Simon, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Outono), Sisters Of Mercy, Madonna (Lisboa ao vivo DVD), New York Dolls (DVD)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral)
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
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