Kudu “Death Of The Party”
Os Kudu têm nome de antílope mas moram em plena Brooklyn, não dispensando contudo toda uma carteira de afinidades com a cultura afro, que respiram através das suas mais variadas manifestações da música que brota pelos cantos dos cinco bairros de Nova Iorque. O seu segundo álbum, uma das mais recomendáveis peças de música para este verão de 2006, tem-lhes valido aplausos invariáveis na escrita (online e off-line) e, sobretudo, manifestações de entusiasmo onde quer que actuem ao vivo. De resto, em conversa recente com a vocalista Sylvie Gordon, esta confirmou-me que há muito boa gente que acaba desapontada com os seus discos depois de os ver ao vivo… Como nos Spektrum (e aqui há afinidades evidentes), esta é uma música que, apesar do recurso às electrónicas, tem um evidente sentido de corpo. Músculo e sangue vivem entre canções que, sim, são para dançar, mas não deixam de transportar toda uma genética pop na sua alma, genética que nos remete invariavelmente para memórias pós-punk, sobretudo os Bow Wow Wow e, pontualmente, Siouxsie & The Banshees. Simpn Reynolds, por exemplo, já lhes aplicou o bem humorado rótulo “tropical goth”, tão inesperada, mas desafiante, que é a forma como conciliam o calor e viço do desafio ao corpo em movimento com traços de cenografia ou pré-histórias menos luminosas que, irremediavelmente, se rendem à luz e cor. O álbum é puro prazer hedonista, mote para festas de libertação, prado para conduzir por instantes a alma por seguros (porque espantosamente familiares) episódios de fuga. E, ao contrário do que a vocalista teme, não desaponta como disco. Antes pelo contrário. É viciante!
Wordsong “Wordsong – Pessoa”
O que o projecto Wordsong faz não é, exactamente, a clássica operação de dar novo corpo musical a poemas que nasceram sem existência obrigatoriamente sonora. Al Berto e, agora, Fernando Pessoa, são antes matéria prima da qual, através de processos de cirurgia que podemos entender num quadro de manipulação de elementos muito em voga em diversas áreas de expressão artística, nascem canções. Canções que não traduzem obrigatoriamente uma lógica estrutural fixa, antes nascendo como afloramentos intuitivos que partem da palavra e ganham vida pelo som. Há semelhanças evidentes no método pelo qual o colectivo trabalhou a poesia de Al Berto e, agora, Pessoa. Porém, os discos exibem alma distinta, o segundo ainda por cima mais coeso como um corpo único. De Al Berto brotava uma emotividade justificada por toda uma série de afinidades, nomeadamente relacionamentos pessoais. Pessoa, por seu lado, levou-os a uma aventura de descoberta, procurando os músicos os seus espaços de identificação no poeta. Não o tomaram sobre pedestal sagrado, levando as suas palavras e ideias a um patamar ostensivamente novo, o desafio tomado como vector protagonista numa rota de aproximação a uma das mais importantes obras da história da língua portuguesa. O resultado mostra-nos uma nova e desafiante forma de ler Pessoa. Ao som este projecto acrescenta a imagem (num DVD), numa sucessão de telediscos de Rita Sá, de genética evidente no universo da ilustração, reforçando as intenções de intervenção plástica de uma obra ousada que promove uma nova e interessante abordagem ao universo pessoano.
GNR “Continuação – Vol. 3”
A EMI resolveu comemorar os 25 anos dos GNR com uma nova compilação. E que fazer depois da excelente Tudo O Que Você Queria Ouvir – O Melhor dos GNR (1996) e de uma recolha de baladas mais recente em Câmara Lenta? Um terceiro volume, claro. Mas que volume? Optou-se por uma lógica de continuidade ou, antes, de complementaridade ao best of de há dez anos, revisitando os discos entretanto editados, procurando ainda memórias mais remotas que haviam ficado de lado (algumas espantosamente actuais, como o espantoso Desnorteado, do álbum de 1984 Defeitos Especiais). Se por um lado há um deficit de “nuggets” (esses ficaram quase todos registados no disco de 96), conta-se uma história recente onde não faltam magníficas canções, sobretudo ao evocar-se os álbuns Mosquito (1998) e Popless (2000). Motor, Ananás e Popless são, de resto, peças de calibre semelhante ao dos reconhecidos grandes clássicos dos GNR. De novo apresenta-se uma bela versão de um acepipe de Roberto Carlos e um inédito que faz acreditar que o tropeção de No Largo dos Cisnes está ultrapassado. Contudo, e apesar das boas pistas recentes, o melhor do disco escuta-se nas memórias de Independança, Twistarte e Defeitos Especiais. Pergunta-se, então, e pela enésima vez, para quando a reedição em CD dos dois primeiros álbuns dos GNR. A estafada justificação “não há masters” já caiu por terra, tantos que foram já os temas deles extraídos entretanto editados nesta e outras compilações. E, claro, para quando, também, a compilação dos singles, de fio a pavio, destes 25 anos de GNR?
E também: Moloko (best of), New York Dolls
Brevemente:
3 Julho: Muse, Johnny Cash, Mars Volta, Regina Spektor, Trifids (reedição), Infadels
10 Julho: Thom Yorke, This Heat (caixa antológica), Comsat Angels (reedições), Gaiteiros de Lisboa, Lambchop
Discos novos ainda este ano: Spartak, Woman In Panic, U-Clic, Muse Lisa Germano (Julho), Protocol (Verão), B-52’s, Beyoncé (Setembro), Blur, Bryan Ferry, Cornershop, Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Julho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Julho), Michael Nyman (Junho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Outono), Sisters Of Mercy
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral), Siouxsie & The Banshees, Lilac Time, The Cure, Heaven 17 (reedições em Agosto)
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento
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