segunda-feira, junho 12, 2006

Discos da semana, 12 de Junho

The Sounds “Dying To Say This To You”
Quando surgiram com um primeiro album, há dois anos, não pareciam mais que vulgares copistas de referências pilhadas, sem qualquer valor acrescentado na sua música. Contudo, ao segundo disco, e sem deixar de ser evidentes nas citações que fazem, juntam uma dose de personalidade com maquilhagem aprumada, um sólido sentido lúdico e uma bela colecção de canções para ouvir todo o Verão. Os The Sounds são um quinteto de Estocolmo cuja música não esconde o protagonismo de uma vocalista que tanto revela heranças doces do melodismo pop de uma Debbie Harry, como mostra sinais ásperos de visceralidade com escola punk. Neste seu novo disco convocam memórias dos Blondie, Kim Wilde, Cars ou Missing Persons, para delas fazer nascer canções que encontram o sentido do presente e desafiam à dança até o mais circunspecto. O disco caminha, sem nunca cair para o lado errado, naquela linha que separa a grande ideia do disparate iminente. Por vezes pode revelar cores kitsch, mas nunca na hora errada. É uma música pop, luminosa, colorida. Mas também musculada. Um triunfo da forma sobre o conteúdo, é certo, mas em jeito de escapismo para o Verão, sem nunca pretender contudo uma caução de uma certa seriedade aqui desnecessária. No fundo, tudo acaba por fazer sentido.

Daniel Johnsnton “Lost And Found”
Três anos depois de um álbum gravado sob a colaboração de Mark Linus dos Sparklehorse, com arranjos inesperadamente sumptuosos dada a história musical de Daniel Johnston, este é um disco que, sem o devolver ao minimalismo de recursos que viveu nos dias de 80, o mostra novamente ao leme do seu som. Este é o resultado da sua interacção com uma nova banda, de alma mais rock, os arranjos por vezes a ofuscar a verdade pura de uma escrita simples e directa. Não está ao nível de Fun ou Rejected/Unknown nem mesmo da já referida interferência externa da ajuda como o fez Mark Linus em Fear Yourself. Mas guarda belos momentos como o magnífico Lonely Song (uma das suas melhores canções de sempre), Try To Love ou um remake do seu velho The Beatles. Na escrita, contudo, nada de novo, as mesmas obsessões a dominar canções honestamente centradas numa história de vida de que nos dá conta o documentário The Devil And Daniel Johnston, estreado esta semana.

Daniel Johnston “Welcome To My World”
Os últimos anos têm assistido a algum arrumar da obra “perdida” de Daniel Johnston, algumas cassetes reunidas em CDs, ao mesmo tempo que o iTunes oferece para download a maior parte da sua discografia (sobretudo as cassetes de 80, entretanto igualmente disponíveis no site oficial, familiar). De gestação “familiar”, surge agora Welcome To My World, uma colecção de 25 canções suficientemente representativas das etapas criativas, obsessões e temáticas da sua música. Fosse um artista de sucesso seria o “greatest hits” onde não faltam “clássicos” como Casper The Friendly Ghost, Man Obsessed, Chord Organ Blues, Walking The Cow (onde a violência do percutir das teclas contrasta com a suavidade da melodia), ou o magnífico Some Things Last A Long Time, ao piano. Antes de uma aventura pelo catálogo em cassete, o ponto de partida ideal para conhecer a obra de Daniel Johnston anterior aos discos mais elaborados que começou a gravar nos anos 90.

Barry Adamson “Stranger On The Sofa”
Quatro anos depois de um ultimo álbum (que encerrou uma longa etapa de frutuosa colaboração com a Mute Records), o regresso num disco que, em vez de desejar a ousadia de novos caminhos, mais não faz que arrumar as ideias que registou no passado de 90. Ou seja, em vez de uma revisão “convencional” na forma de best of, Barry Adamson propõe uma colecção de temas nos quais revisita os espaços que já percorreu, voltando assim a mostrar sinais de gosto pela elaboração de texturas e cenografias cinematográficas, o encanto (mais recente) pela exploração da canção e da sua própria voz, e os inevitáveis temperos jazz e funk, não esquecendo as lógicas pop e até mesmo a genética new wave, que viveu em finais de 70 e inícios de 80 nos Magazine e Visage. Todavia, não está ao nível do que nos mostrou nos seus grandes álbuns de 90.

The Upper Room “Other People’s Problems”
Primeiras pistas colhidas em singles do ano passado e algum entusiasmo que corria pela Internet fez-nos esperar pela edição do álbum desta banda de Brighton que tanto convocava a admiração de Phil Spector como afinidades com os Stone Roses e o natural travo “late 70’s" do momento… Porém, o álbum é profunda desilusão, mais um a sonhar ser o Coldplay que se segue… Mesmo assim por ali há um ou outro momento que mostra que o caminho poderia ter sido outro. Escute-se o magnífico Combination, para acreditar que poderão fazer bem melhor…

Também esta semana: Triffids (reedição), Paul Weller, Black Heart Procession, Ryuichi Sakamoto (remisturas), Joe Strummer (DVD), Field Music

Brevemente:
19 Junho: Divine Comedy, John Cale (reedição), Frank Black, Nouvelle Vague, Catpeople, Infadels, Scritti Politti (edição nacional), Madonna (CD + DVD), Martin Hanett (compilação com temas por si produzidos)
26 Junho: Wordsong, GNR (best of com inéditos), Kudu, Moloko (best of), New York Dolls

Discos novos ainda este ano: Spartak, Woman In Panic, U-Clic, Muse (Julho), Lisa Germano (Julho), Protocol (Verão), Thom Yorke (Julho), B-52’s, Beyoncé (Setembro), Blur, Bryan Ferry, Cornershop, Damon Albarn (Verão), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Julho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Julho), Michael Nyman (Junho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Paul Simon, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters (Outono), Sisters Of Mercy
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Jesus & Mary Chain, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição), Björk (caixa integral), Siouxsie & The Banshees, Lilac Time, The Cure


Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.

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