Foto de Diana Quintela
Com mais sabor a um presente cosmopolita, urbano e atento ao que se escuta e faz por aí fora, que as apostas em reggae de segunda que parecem dominar hoje a agenda de quem edita entre nós, os U-Clic deixaram claro no pequeno, mas espantoso, concerto no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz porque têm em mãos um dos potenciais melhores discos portugueses do ano, com evidentes capacidades de exportação imediata. A música parte de pontes entre uma electrónica ríspida e fria e um rock pujante, mas nunca desnorteado. Herda referências num espectro vasto que tanto espreita os Sonic Youth ou Jesus & Mary Chain como uns Add N To X ou DAF. Mas, contra a tentação da nostalgia, oferecem um som que de retro nada tem, perfeito retrato de um presente citadino, mais implosivo que festivo, mais tenso que luminoso. Ou seja, em sintonia com o que se escuta em Nova Iorque, Londres e mais além...
Face às demos que o grupo tem para escuta no MySpace, mostraram cativante vitalidade performativa que passa sobretudo por interessantes jogos de projecções sobre os três músicos, a branco integral, abdicando dos tradicionais jogos de luzes em favor da construção de uma tela única feita de corpos, desenhos e imagens em movimento, em perfeita consonância com a música. Desta sublinhe-se a eficácia pop de um Like ou um Unfashionautic Superstars, a pessoalíssima versão de Drunken Butterfly dos Sonic Youth, uma hilariante citação aos Bros e ao entusiasmo maquinal que se solta de Robot’N’Roll. Se foram “a” promessa de 2005 nas maquetes que nos deixaram escutar, neste concerto (onde não esteve presente sequer um editor discográfico), mostram que são já uma confirmação, com álbum de estreia a caminho.
Texto publicado no DN a 8 de Maio