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Assim, o júri — presidido por Wong Kar Wai — terá de encontrar o seu caminho e os seus valores por entre uma selecção que se distingue, antes de tudo o mais, pela escassa presença das habituais grandes "máquinas" industriais. Mesmo a exibição de O Código Da Vinci, título da abertura oficial, não passará de um casamento pontual de mútuo interesse mediático, uma vez que está programado extra-competição.
Entre os habitués da Côte d'Azur, surgirão Pedro Almodóvar (Volver), Ken Loach (The Wind that Shakes the Barley) e Nanni Moretti (Il Caimano). Entretanto, Sofia Coppola parece ter garantindo o mais forte buzz industrial e mediático com Marie-Antoinette. E teremos, claro, o novo título de um dos nomes mais importantes do actual cinema português: Juventude em Marcha, de Pedro Costa.
Ainda na selecção oficial, mas fora de competição, estarão representados realizadores como François Ozon, Sydney Pollack e Wim Wenders. Em termos gerais, os nomes "secundários", ou mesmo completamente desconhecidos, proliferam. Razão para cepticismos? Antes pelo contrário: há, aqui, um risco real de apostar fora do baralho mais tradicional. E isso, para um certame como Cannes, é decisivo como forma de escapar à normalização, seja ela cultural ou mediática, cinematográfica ou televisiva.
* O cartaz de Cannes 2006 foi executado por Gabriel Guedj, da Agence Magazine, a partir de uma foto de Wing Shya.