O cartaz (*) da 59ª edição do Festival de Cannes (17 / 28 Maio) é, ao mesmo tempo, sedutor e vago. Nele encontramos um vulto indecifrável, descendo uma galeria abstracta, porventura atravessando um filme utópico. Dir-se-ia que a imagem garante a evocação de uma certa aura cinéfila, ao mesmo tempo que nada parece existir para "encher" a forma que, assim, se contempla. Com um alinhamento à partida de discreto impacto (o que não quer dizer que não esteja cheio de filmes extraordinários), será que o certame se confrontou com esse mesmo drama de identidade(s)? Será que, mais do que nunca, foi difícil satisfazer o compromisso tradicional entre o "luxo" mediático e o risco estético? Entre a dimensão popular e a exploração dos nichos mais esotéricos?
Assim, o júri — presidido por Wong Kar Wai — terá de encontrar o seu caminho e os seus valores por entre uma selecção que se distingue, antes de tudo o mais, pela escassa presença das habituais grandes "máquinas" industriais. Mesmo a exibição de O Código Da Vinci, título da abertura oficial, não passará de um casamento pontual de mútuo interesse mediático, uma vez que está programado extra-competição.
Entre os habitués da Côte d'Azur, surgirão Pedro Almodóvar (Volver), Ken Loach (The Wind that Shakes the Barley) e Nanni Moretti (Il Caimano). Entretanto, Sofia Coppola parece ter garantindo o mais forte buzz industrial e mediático com Marie-Antoinette. E teremos, claro, o novo título de um dos nomes mais importantes do actual cinema português: Juventude em Marcha, de Pedro Costa.
Ainda na selecção oficial, mas fora de competição, estarão representados realizadores como François Ozon, Sydney Pollack e Wim Wenders. Em termos gerais, os nomes "secundários", ou mesmo completamente desconhecidos, proliferam. Razão para cepticismos? Antes pelo contrário: há, aqui, um risco real de apostar fora do baralho mais tradicional. E isso, para um certame como Cannes, é decisivo como forma de escapar à normalização, seja ela cultural ou mediática, cinematográfica ou televisiva.
* O cartaz de Cannes 2006 foi executado por Gabriel Guedj, da Agence Magazine, a partir de uma foto de Wing Shya.
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Assim, o júri — presidido por Wong Kar Wai — terá de encontrar o seu caminho e os seus valores por entre uma selecção que se distingue, antes de tudo o mais, pela escassa presença das habituais grandes "máquinas" industriais. Mesmo a exibição de O Código Da Vinci, título da abertura oficial, não passará de um casamento pontual de mútuo interesse mediático, uma vez que está programado extra-competição.
Entre os habitués da Côte d'Azur, surgirão Pedro Almodóvar (Volver), Ken Loach (The Wind that Shakes the Barley) e Nanni Moretti (Il Caimano). Entretanto, Sofia Coppola parece ter garantindo o mais forte buzz industrial e mediático com Marie-Antoinette. E teremos, claro, o novo título de um dos nomes mais importantes do actual cinema português: Juventude em Marcha, de Pedro Costa.
Ainda na selecção oficial, mas fora de competição, estarão representados realizadores como François Ozon, Sydney Pollack e Wim Wenders. Em termos gerais, os nomes "secundários", ou mesmo completamente desconhecidos, proliferam. Razão para cepticismos? Antes pelo contrário: há, aqui, um risco real de apostar fora do baralho mais tradicional. E isso, para um certame como Cannes, é decisivo como forma de escapar à normalização, seja ela cultural ou mediática, cinematográfica ou televisiva.
* O cartaz de Cannes 2006 foi executado por Gabriel Guedj, da Agence Magazine, a partir de uma foto de Wing Shya.