sexta-feira, abril 28, 2006

Trilogia de Nova Iorque (2)

Não há visita a Nova Iorque que não peça uma passagem pelo CBGB, velhos hábitos a que só a ordem de despejo, que se cumprirá no fim do Verão colocará inevitável ponto final. A ementa de concertos na última semana não era particularmente entusiasmante, mas nunca a casa esteve vazia, transformada que está (sobretudo para os forasteiros) em altar de romaria obrigatório para todos os que ali reconhecem um espaço de dimensão “bíbilica” na história da cultura rock’n’roll. Na porta ao lado, o CB’s Gallery, que abre as portas logo pela manhã, podemos encontrar memorabillia e merchandise relativos ao clube. T-shirts e outras gracinhas de trazer para casa, discos em vinil (um deles, de finais de 70, com gravações inéditas no palco do CBGB, com bandas como os Shirts, Mink DeVille ou Tuff darts, CDs, DVDs, palhetas-chaveiro, e o que mais se quiser. Trouxe uma dose renovada de T-shirts e os álbuns em vinil… Mas a gracinha foi o saco no qual me foram dadas as compras… Um saco daqueles tipo loja chique de roupa, com o logo do CBGB a prateado… Nem o Studio 54 faria melhor!

O tom inesperado e algo desajustado daquele saco de jeito chique numa loja ligada ao clube que é merecidamente reconhecido como a “casa do rock underground” fez franzir o sobrolho do dono da Rebel Rebel, a minha loja de discos de colecção favorita em Manhattan… Olhou para o saco, sem saber como reagir… A conversa rapidamente mudou para o assunto de sempre: David Bowie (o nome da loja não engana quem nela entra, nem os singles e capas de revistas na parede). A Rebel Rebel, no número 319 da mui recomendável Bleeker Street (precisamente nas traseiras do quarteirão onde se encontra a mítica tabacaria Village Cigars) é uma das mais bem fornecidas lojas de discos em vinil e novidades em CD para gostos pop/rock alternativos, clássicos e com afinidades com a cultura pop britânica. Pelas paredes vêm-se velhos números da Mojo, da velha Face, da Q… Singles de Patti Smith, Bowie, Joy Division (o EP An Ideal For Living marchou no momento). Há álbuns em vinil dos nomes de referência de 60 a 80. E vasta oferta em singles, sobretudo de… Bowie, claro! Atenção ainda aos livros, sobretudo os que já não se encontram nas prateleiras das livrarias. No ano passado tinha por lá encontrado um soberbo estudo musicológico sobre a obra de Brian Eno. Este ano, o catálogo de uma histórica exposição de capas de disco de Vaughan Oliver…


Quando se tem algum tempo em Manhattan, e se gosta de livros, há que passar pelas grandes lojas generalistas, como a Borders, a Barnes And Noble ou (a minha preferida) Shakespeare And Company (nada relacionada com a livraria com o mesmo nome e historial que remonta ao século XIX nas margens do Sena, frente a Notre Dame, em Paris). Contudo, aconselha-se passagem pela Strand, uma espécie de Barateira lá do sítio, mas com oferta que não se esgota em segunda mão, muitos sendo os livros com alguns meses de edição que ali se encontram, no mínimo, a metade do preço. A Strand, que usa como frase de apresentação a convidativa expressão “18 miles of books”, tem duas lojas, uma no número 828 da Broadway (junto da rua 12) e outra no número 95 da Fulton Street, rua de comércio entre o ‘ground zero’ e o agitado South Sea Port. As livrarias são enormes e bem arrumadas. Na secção de música (paragem obrigatória, sempre), uma das descobertas da viagem: Playback, de Mark Coleman, uma história tecnológica da música que relaciona os aparelhos de gravação e reprodução de som com a música que a cada nova década se foi criando, dos dias do fonógrafo ao mp3… Um olhar sério que nos obriga a reconhecer que nem só da criatividade pura viveu a história da música, desde que começou a ser gravada.

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