The Streets “The Hardest Way To Make An Easy Living”
Um olhar minucioso e crítico (como sempre reconhecemos na música de Mike Skinner) sobre a vida que a fama pop altera. A existência sobre olhares permanentes, o amor entre famosos, as drogas, o caos, até mesmo tendências suicidas. Mas em vez de um confessionalismo mais directo e apenas realista, Skinner reencontra um sentido de humor. E, a rir, como manda a velha máxima, castiga os hábitos. When You Wasn’t Famous, caricatura as “dificuldades” pelas quais passa o “famoso” na era dos telemóveis com câmara: “how the hell am I supposed to be able to do a line in front of complete strangers / When I know they’ve all got cameras?”… Em Never Went To Church reflecte o que aconteceu a tantos outros agnósticos que sentem a necessidade de um inesperado conforto na fé em momentos mais difíceis. E não falta em Two Nations o olhar irónico do inglês sobre o americano. Musicalmente o álbum representa também uma manifestação ressaca face à eloquência do genial disco de 2004. Apesar de alguns momentos de minuciosa concepção de cenários (como no já referido single ou no tema-título, onde “pilha” os Moody Blues), o disco assinala essencialmente um regresso à casa partida, num retomar de princípios estruturais e decorativos mais próximos das suas raízes originais UK garage e hip hop. Não perde, contudo, a canção de vista, sublinhando e reforçando o estatuto de grande escritor de canções que nele muitos apontam desde o seu primeiro álbum. E tudo isto no mais vulgar sotaque cockney, pontapés na gramática também suficientes para estremecer as fundações do bom inglês…
She Wants Revenge “She Wants Revenge”
Reencontrar sonoridades e entusiasmos que escutavam nos discos que ouviam há 25 anos é verdade transversal à belíssima estreia dos She Wants Revenge, duo caloforniano que promove um espaço de expressão de um gosto “clássico” pela canção, pelas referências pós-punk, em clara atitude de saudável alternativa aos estafados destinos do actual mainstream norte-americano. Depois de uns Interpol, Editors ou The Killers devia estar ultrapassada a preguiçosa tendência para dizer “soa a isto” (para “isto” igual a Joy Division)… Como se alguma coisa que estreie não soe, necessariamente, a alguma referência evidente (até a primeira sinfonia de Beethoven soava a Mozart!). Os She Wants Revenge podem fazer uma música que traduza heranças da Joy Division, dos The Cure (primeira fase), dos Depeche Mode (etapa mais negra). Mas não se limitam a um básico cut and paste revisionista, importando essas referências para construir um corpo actual de canções que mostra como essa célula primordial da cultura pop pode respirar vida. Não inventa, nem quer inventar. Mas comunica, interage, convida e desafia.. É preciso ser génio em ruptura para justificar que lhes escutemos os discos? Não me parece… Assim como não precisamos de revoluções todos os dias…
X-Wife “Side Effects”
O trio segue o mesmo caminho trilhado no álbum de estreia, projectando um presente que se continua a fazer da assimilação de inspiradores códigos herdados de finais de 70, punk e pós-punk. A convivência das guitarras com voz e electrónicas é mais fluente que no primeiro álbum, contudo a urgência em extravasar ideias impede que algumas amadureçam um pouco mais. E o disco, que abre com o excelente Ping Pong, raras vezes volta a mostrar a mesma capacidade em suportar a construção de uma tão boa canção do princípio ao fim. Há belíssimos momentos quando electrónicas e guitarras levantam a voz e quase discutem quem manda mais... Estão no bom caminho…
Stereolab “Fab Four Suture”
Os Stereolab têm, com alguma frequência, reunido em álbum as canções que editam nos seus muitos (e sempre recomendáveis) singles. Fab Four Suture recolhe EPs editados nos últimos meses, num projecto desde a partida definido como um álbum em construção, por peças, single após single. Daí, talvez, um sentido de coesão que domina o disco, no qual o grupo volta a dar-nos uma magnífica colecção de peças pop, de canções irresistíveis como Vodiak ou Interlock a instrumentais minimalistas, obsessivos e viciantes como o díptico Kybernetica Babicka. Electrónicas analógicas, visão melodista e uma voz de sonho ao serviço de uma pop sempre viva e sedutora.
Teddy Thompson "Separate Ways"
Apesar de um magnífico tema de abertura, no qual colaboram os manos Rufus e Martha Wainwright, o filho de Robert Thompson mostra neste seu segundo álbum que quer manter a sua identidade folksy mais convencional acima de outros devaneios sónicos. Se a grande escrita ali nascesse, nada em contrário. Mas nem as canções são de excepção, nem os caminhos que trilham mostram ainda particular personalidade.
Também esta semana: I Am X, Calexico, Elefant, Camané (DVD), Buzzcocks, Lamchop, Aphex Twin, Beatles (reedições), Arctic Monkeys (DVD), The Mission (best of), Legendary Tiger Man
Brevemente
17 Abril: White Rose Movement, Protocol, Dizee Rascal, Bananarama (best of), The Knife, Faris Nourallah (reedição), Secret Machines, Ronnie Spector, Zutons, Charlatans, Miss Kittin, Madonna (remisturas, apenas em vinil), Philip Glass (duas sinfonias)
24 Abril: António Variações (integral de estúdio), Fiery Furnaces, Gnarls Barkley, Futureheads, Red Hot Chilli Peppers, Air (colaborações), British Sea Power, Thievery Corporation, Moloko (best of), The Dears, Tortoise, The Rakes, Gun Shys, Cure, k.d. Lang
1 de Maio: Basement Jaxx, Pearl Jam, Gomez, Scritti Politti, Teats For Fears (reedição), PJ Harvey (DVD
Maio: Pet Shop Boys, , Bruce Springsteen, Clear Static, Only After Dark (compilação pós-punk), Radio 4, Boy Kill Boy, Hot Chip, Outkast, Basement Jaxx, Gomez,), Grandaddy, Lisa Germano, Matmos, Roddy Frame, Fatboy Slim (best of), Frank Black, Muse, Zero 7, Sex Pistols (reedição), William Orbit, Spiritualized, Death From Above 1979, Velvet Underground (antologia), Elvis Costello + Allen Toussaint
Discos novos ainda este ano: Primal Scream (Junho), B-52’s, Björk, Beyoncé, Blur, Bryan Ferry, Cornershop (Maio/Juho), Damon Albarn (Verão), David Bowie (Junho), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Duran Duran (Verão), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Maio/Junho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Junho), Michael Nyman (Maio/Junho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Paul Simon, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters, Sisters Of Mercy, Madonna (Lisboa ao vivo DVD), New York Dolls (DVD)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Björk, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição).
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
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