Começa a esgotar-se a paciência para estes filmes de segunda linha, mesmo que com orçamentos e elencos de pole position, adaptados de BDs e graphic novels. A invasão, que tem ensopado os ecrãs de verdadeiros atentados à inteligência (raras excepções em casos como, por exemplo, Ghostworld ou Uma História de Violência, cada qual por razões distintas, mas que em ambos os casos passam pela solidez da realização e pela capacidade em fazer “cinema”). V de Vignança é um desfile de lugares comuns tão banais que faz dos Teletubbies (ou dos velhos Wombles, que brevemente veremos evocados em Breakfast On Pluto) um acontecimento intelectual. É mais uma história de um mundo dominado por uma ditadura militar implacável que mantém a população mansinha pelo medo e pelo uso de media transformados em órgãos de propaganda. Os maus são conservadores. Os bons nem por isso. E, claro, não faltou o vírus que desencadeou a história que nos levou ao estado em que encontramos a Inglaterra de dois mil e poucos na qual se passa a acção. Há uma empregada de uma estação de televisão que acaba confundida como rebelde terrorista depois de um encontro de um homem com máscara de D’Artagnan (na verdade a máscara replica a face de um radical que, no século XVII tentara fazer explodir o parlamento britânico, perdendo, literalmente, a cabeça depois de apanhado quase em flagrante)… É claro que o mascarado é o salvador que tenta libertar os oprimidos dos opressores, e blá blá blá. E tem uma cave com obras de arte proibidas. E uma jukebox com canções clássicas do século XX, também proibidas, claro. E nunca tira a máscara. E mata que se farta, uma rosa vermelha sempre sobre as vítimas. E há velhos oficiais feitos pregadores de TV, bispos nada castos, políticos submissos e um ditador mafarrico. E blá blá blá. Banal, banal, banal… Mas excelente, ao lado do mil vezes pior Ultraviolet, a estrear dia 6, até agora o horror do ano. Ultraviolet , outra BD feita, eurgh... filme, consegue ser pior que o inenarrável Aeon Flux. De facto, esta gente consegue sempre surpreender-nos.
PS. O melhor de V de Vingança serve-se neste post: o poster (mesmo assim pilhado do design de cartazes do cinema soviético dos anos 20).
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