domingo, março 19, 2006

RETRO: Lene Lovich, 1980

Uma das mais distintas figuras da new wave britânica, Lene Lovich fez notável carreira entre 1978 e 80, tropeçando em 1983 num álbum menor, desaparecendo do firmamento pop logo depois para pontual regresso em 1990 e recente reaparição em finais de 2005, tendo passado grande parte destes últimos 25 anos em trabalhos no teatro e em programas de defesa dos direitos dos animais. Herdeira das lições de Patti Smith e Debbie Harry, reinterpretando-as à luz de um certo exotismo captado na Europa Central (afinal, apesar de ter nascido em Detroit e crescido em Inglaterra, era filha de pai jugoslavo), Lene Lovich definiu uma personalidade através de uma pop nascida da efervescência pós-punk feita de imagens bizarras, imagens estranhas e uma postura vocal única, com pequenos gritos agudos que lhe serviram de imagem de marca.
Depois de uma estreia em 1979 com o álbum Stateless (que lhe valeu o êxito global ao som de Lucky Number), trabalhou com o seu parceiro de sempre (e hoje seu marido) Les Chapell um aperfeiçoamento e sofisticação de um som new wave mais polido, todavia não despojado da sua intensidade, do seu exotismo, da sua capacidade em fazer teatro pelo som. Flex, de 1980, pode não ter sido o sucesso que se adivinhava depois de um álbum tão promissor como o fora Stateless, mas representa o pico de forma na obra de Lene Lovich, com um conjunto de canções que poderia encher meio “best of” da sua curta, mas recomendável carreira. Editado em single alguns meses antes do álbum, Bird Song é uma canção com invulgar sentido de espaço, com ambientes e teias musicais coreografados sob um sentido arty que a afastava das mais convencionais receitas pop de top. O álbum confirmou depois as sugestões de Bird Song, com uma mão cheia de grandes canções como o festivo Angels, o sombrio You Can’t Kill Me, o épico Wonderful One ou o luminoso Joan. Tal como no álbum anterior, não faltou a cover da praxe, escolha desta feita apontada ao velho The Night, de Frank Valli. O álbum é um monumento de produção ao jeito da época, transportando as ideias de rebeldia nascidas um ano antes a um patamar de mais polida sofisticação sonora, criando um monumento de pujança pop que a presença vocal de Lene Lovich domina como poucos o teriam feito.
Lene Lovich “Flex” (Stiff, 1980)

Se gostou, escute depois:
Nina Hagen: "Ubehagen" (1980)
Missing Persons: "Spring Session M" (1982)
PJ Harvey: "To Bring You My Love" (1995)


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