Vários “Monsieur Gainsbourg Revisited”
Com quatro tributos editados desde 1994, dois álbuns de versões por Mick Harvey e uma vasta multidão de novas leituras de velhos temas por álbuns e singles de gentes de todas as latitudes (geográficas e estéticas), Serge Gainsbourg é hoje um dos autores mais revisitados da história pop, e talvez o internacionalmente mais abordado dos grandes ícones da música francesa. Monsieur Gainsbourg Revisited traz de diferente um lote invulgarmente recomendável de figuras de espaços “alternativos” oriundos de diversas proveniências musicais e de gerações distintas. E adapta as canções à língua inglesa, digno trabalho de tradução entregue ao romancista Boris Bergman. Este é um tributo ao nível de clássicos do género como Red Hot + Blue (dedicado a Cole Porter) ou I’m Your Fan (Leonard Cohen), com todas as participações a oferecer trabalhos de paixão e dedicação, cada qual a ensopar com as suas idiossincrasias e gosto as canções do velho mestre, algumas profundamente reconstruídas, nenhuma delas destruída. A pérola do lote é a nova abordagem a Je T’Aime (Moi Non Plus) por Cat Power e Keren Elson, sem a carga erótica do original, mas com uma sumptuosidade terna e inequívoco poder de sedução. São igualmente notáveis as participações dos Franz Ferdinand (em dueto eléctrico com Jane Birkin em A Song For Sorry Angel), Portishead (Requiem For Anna), Jarvis Cocker (com Kid Loco num eloquente I Just Came To Tell You That I’m Going), os The Kills (elegantes em I Call It Art) e Marianne Faithfull (com a dupla Sly & Robbie, num espantoso Lola R, For Ever de genética reggae). Michael Stipe, Tricky, Faultline (com Brian Molko e Françoise Hardy), The Rakes, Marc Almond (com Trash Palace) ou Gonzales (com Feist e Dani) correspondem ao que se espera. Só Carla Bruni desilude, numa versão tão dietética, que acaba sem sabor a nada.
Yeah Yeah Yeahs “Show Your Bones”
Depois de uma estreia apenas interessante em 2003, onde pouco mais faziam que captar modos e gestos da herança punk, os Yeah Yeah Yeahs concretizam neste segundo álbum as expectativas de quem neles via mais que meros prospectores de ideias antigas. A escrita é mais versátil, e a arte final das canções eleva-os a um novo patamar que não fecha portas às heranças punk, projectando-as antes em diversos rumos, a canção comandando agora as ideias, não necessariamente apenas o seu som e atitude. Sente-se uma curiosidade pelo legado da new wave (particularmente Blondie e X-Ray Spex), uma abertura lírica além das temáticas sexualmente agressivas dos primeiros tempos, espaço até para algum sonho e introspecção (ajudados, na recta final do álbum, por espaços de inesperada placidez). Há boa carne sobre estes ossos! E nervos. E pele. Belo segundo disco!
Vários “Revistados”
Um tributo? Mais um? Só se juntar uma multidão de figuras de relevo (como se vê em Monsieur Gainsbourg Revisited). Ou se trouxer novos ângulos de abordagem aos originais. A homenagem aos 25 anos dos GNR opta por esta segunda ideia, abrindo o catálogo de um dos mais versáteis e interessantes entre os veteranos vivos da pop nacional ao hip hop, ao reggae, à soul e periferias. A ideia é, contudo, mais interessante que os resultados, nada de espantar perante uma geração hip hop nacional ainda em vida adolescente, raros os projectos com capacidade para exibir personalidade e, sobretudo, sem temor de desligar os microfones de quando em vez para dar espaço à música (muitas vezes o elo mais fraco, frequentemente afogada em rimas e mais rimas). Há exercícios interessantes de desconstrução e recontextualização das canções dos GNR, assim como se mostra aqui como uma boa matéria-prima sobrevive a metamorfoses além do limite de aparente resistência das formas. Boas contribuições dos Guardiões do Subsolo, Xeg e Charly Martinez. Desilusão na abordagem quase banal de Melo D a Dunas.
Massive Attack “Collected”
Que dizer de um best of dos Massive Attack? Que representa a súmula de 15 anos de uma obra que ajudou a definir as linguagens pop dos anos 90 e que, acima de tudo, promoveu interessantes desenvolvimentos convergentes de heranças hip hop e reggae, com a canção sempre por meta. O disco junta os clássicos incontornáveis, lados B, raridades e, num DVD acoplado, a excelente colecção de telediscos do grupo. Contudo, Collected, para o iniciado, deve ser apenas um ponto de partida, nunca a meta. Não se dispensa a (re)descoberta de Blue Lines (1991), o ponto de partida, ainda encharcado em marcas de identidade da vida anterior no colectivo Wild Bunch, e o não menos obrigatório Mezzanine (1998), a afirmação definitiva de uma voz própria, elaborada, plena de acontecimentos, e sombria. Muito sombria. Muito anos 90…
Brian Eno + David Byrne “My Life In The Bush Of Ghosts”
Esta colaboração de 1981 de Brian Eno com David Byrne amplificou os interesses e curiosidades de ambos sobre uma ideia de música feita da justaposição de técnicas instrumentais convencionais com um recurso a vozes gravadas na rádio, e usadas como mais tarde se veio a fazer com samplers. As fitas cortadas e coladas têm, todavia, uma vida diferente da precisão digital dos samples de hoje, concedendo à montagem um sabor de arestas menos polidas, mais vivas e físicas. As vozes são procuradas em programas diversos, línguas diferentes e, sobretudo, manifestam sonoridades associadas a crenças ou cultos de várias fés. O sentido de carnalidade que o disco transpira deve-se também ao lote de convidados que participam no álbum, que lhe conferem corpos vários e estruturas rítmicas multicolor, de pulsões funk a devaneios electrónicos mais contemplativos. Bill Laswell, Chriz Franz (dos Talking Heads) ou Prarie Prince juntaram-se a Eno e Byrne numa aventura intuitiva de ensaio e erro da qual nasceu um disco que hoje identificamos entre a genética primordial de uma forma de construir música que se expandiu e tornou comum.
Também esta semana: Maximo Park (lados B), Depeche Mode (reedições), Wire (reedições), Rolling Stones (reedições em mini vinil), Kate Bush (reedições em mini vinil), DFA Remixes, Gorillaz (DVD), Josh Rouse, Howe Gelb, Maria Teresa de Noronha (caixa), Velvet Underground (DVD), Martin Hannett Story (antologia)
Brevemente
3 Abril: Morrissey, Flaming Lips, Daft Punk (best of), The Dears, Erasure, The Organ, Mário Laginha, She Wants Revenge (edição local, Japan (best of + DVD), Neil Diamond (edição local), Tim, The Organ, António Variações (integral), Fiery Furnaces, Gary Numan, Neko Case, Calexico, Stereolab, The Mission (best of), All About Eve (best of), Ciccone Youth (reedição), Grace Jones (best of), Dimitri From Paris, The Jam (antologia), Blue Aeroplanes, Marvin Gaye (DVD)
10 Abril: The Streets, I Am X, Calexico, Elefant, X Wife, Camané (DVD), Buzzcocks, Teddy Thompson, Faris Nourallah (reedição), Secret Machines, The Knife, Ronnie Spector, Lamchop, Aphex Twin, Beatles (reedições), Arctic Monkeys (DVD)
17 Abril: White Rose Movement, Protocol, Pharell Williams, Dizee Rascal, Bananarama (best of)
Abril: British Sea Power, Thievery Corporation, Moloko (best of), Garbage (best of), The Dears, Calexico, Air (colaborações), Red Hot Chilli Peppers, Tortoise, Clear Static, The Rakes, Gun Shys, Cure, Bruce Springsteen, Futureheads, Madonna (remisturas, apenas em vinil), Madonna (DVD), k.d. Lang
Maio: Pet Shop Boys, Clear Static, Only After Dark (compilação pós-punk), Radio 4, Boy Kill Boy, Garbage, Pearl Jam, Hot Chip, Outkast, Basement Jaxx, Gomez, Scritti Politti, Tears For Fears (reedição), PJ Harvey (DVD), Grandaddy, Lisa Germano, Matmos, Roddy Frame, Red Hot Chili Peppers, Fatboy Slim (best of), Frank Black, Muse, Zero 7, Sex Pistols (reedição), William Orbit, Spiritualized, Death From Above 1979, Velvet Underground (antologia), Elvis Costello + Allen Toussaint
Discos novos ainda este ano: Primal Scream (Junho), B-52’s, Björk, Beyoncé, Blur, Bryan Ferry, Cornershop (Maio/Juho), Damon Albarn (Verão), David Bowie (Junho), Depeche Mode (ao vivo, Outono), Duran Duran (Verão), Feist (Outono), Franz Ferdinand (Outono), Hector Zazou, Jarvis Cocker (Maio/Junho), Joseph Arthur, The Killers (Outono), Kim Wilde, Michael Franti (Junho), Michael Nyman (Maio/Junho), Moby (Verão), Neneh Cherry, Nine Inch Nails, Outkast, Paul Simon, Peter Gabriel, Polyphonic Spree (Julho), Q-Tip, Radiohead, St Etienne, Scissor Sisters, Sisters Of Mercy, Madonna (Lisboa ao vivo DVD), New York Dolls (DVD)
Reedições e compilações ainda este ano: Art Of Noise, Björk, Frankie Goes To Hollywood, Kate Bush (Novembro), Oasis (Lados B, Junho), Propaganda, Byrds (reedição), Clash (reedição)
Estas datas provém de planos de lançamento de diversas editoras e podem ser alteradas a qualquer momento.
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